Fonte: NIC.br

Uso da rede aumenta nas áreas rurais e nas classes DE, mas desigualdades de acesso persistem no país

O Brasil conta com 134 milhões de usuários de Internet, o que representa 74% da população com 10 anos ou mais. Apesar do aumento significativo nos últimos anos na proporção da população brasileira que usa a Internet, cerca de um quarto dos indivíduos (47 milhões de pessoas) seguem desconectados. É o que aponta a pesquisa TIC Domicílios 2019, lançada nesta terça-feira (26) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).

Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, mais da metade da população vivendo em áreas rurais declarou ser usuária de Internet chegando a 53%, proporção inferior à verificada nas áreas urbanas (77%). No recorte por classe socioeconômica, também houve avanço no percentual de usuários das classes DE, que passou de 30% em 2015 para 57% em 2019. Um contingente importante de indivíduos segue desconectado: 35 milhões de pessoas em áreas urbanas (23%) e 12 milhões em áreas rurais (47%). Entre a população da classe DE, há quase 26 milhões (43%) de não-usuários.

O celular é o principal dispositivo para acessar a Internet, usado pela quase totalidade dos usuários da rede (99%). A pesquisa ainda aponta que 58% dos brasileiros acessam a rede exclusivamente pelo telefone móvel, proporção que chega a 85% na classe DE. O uso exclusivo do telefone celular também predomina entre a população preta (65%) e parda (61%), frente a 51% da população branca. De acordo com a TIC Domicílios, houve um crescimento no uso da rede pela televisão (37%), um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2018.

No que se refere a conexão domiciliar, a Internet está presente em 71% dos domicílios brasileiros. Mais de 20 milhões de domicílios não possuem conexão à Internet, realidade que afeta especialmente domicílios da região Nordeste (35%) e famílias com renda de até 1 salário mínimo (45%). A pesquisa constatou um aumento no número de domicílios com acesso à Internet nas classes C e DE. Nas classes DE, a proporção passou de 30% em 2015 para 50% em 2019.

Pelo quarto ano consecutivo, a pesquisa verificou uma redução da presença de computadores nos domicílios, passando de 50% em 2016 para 39% em 2019. Pelo recorte socioeconômico, enquanto 95% domicílios da classe A possuem algum tipo de computador, eles estão presentes em apenas 44% dos domicílios da classe C e 14% dos domicílios das classes DE.

“Com o isolamento social, medida de prevenção a Covid-19, milhões de brasileiros passaram a depender ainda mais da Internet e das TIC de maneira geral para realizar atividades de trabalho remoto, ensino à distância e até mesmo para acessar o auxílio emergencial do governo. Mas a falta de acesso à Internet e o uso exclusivamente por celular, especialmente nas classes DE, evidenciam as desigualdades digitais presentes no país, e apresentam desafios relevantes para a efetividade das políticas públicas de enfrentamento da pandemia. A população infantil em idade escolar nas famílias vulneráveis e sem acesso à Internet também é muito afetada neste período de isolamento social. A pandemia revela de forma clara as desigualdades no Brasil”, pontua Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.

Em relação ao tipo de conexão presente nos domicílios, a pesquisa revela que nos últimos quatro anos houve uma inversão nas posições de conexão por cabo ou fibra óptica, e via linha telefônica (DSL). O acesso via cabo ou fibra óptica passou de 24% (2015) para 44% (2019), mesma diferença da conexão DSL, que caiu de 26% para 6% nesse período.

Atividades na Internet

As atividades de comunicação são as mais comuns no uso da rede, sendo o envio de mensagens instantâneas realizado por 92% dos usuários de Internet, seguido pelo uso de redes sociais (76%) e chamadas por voz ou vídeo (73%), em crescimento nos últimos anos.

A busca por informações também está entre as principais atividades realizadas na Internet, sobretudo a busca por produtos e serviços (59%), seguida por assuntos relacionados a saúde ou a serviços de saúde (47%). Essa última apresenta uma proporção menor entre pessoas de 60 anos ou mais (39%) e nas classes DE (31%).

Ainda, 41% dos usuários de Internet afirmam efetuar atividades ou pesquisas escolares na rede, sendo que 40% estudam por conta própria e 12% realizam cursos à distância. Apenas um terço dos usuários (33%) fazem trabalho pela Internet, sendo que essa proporção representa menos da metade da força de trabalho (45%).

Em 2019, 39% dos usuários de Internet compraram produtos e serviços pela Internet nos doze meses anteriores à pesquisa. A proporção chega a 79% na classe A e 16% nas classes DE. Percebe-se também diferenças regionais: 45% dos usuários de Internet da região Sudeste e 26% da região Norte realizaram alguma atividade de comércio eletrônico nesse período.

Atividades culturais na Internet

Assistir a vídeos (74%) e ouvir música (72%) também estão entre as atividades mais realizadas pelos usuários de Internet brasileiros. Isso corresponde a pouco mais da metade da população acima dos 10 anos que realiza tais atividades (56%), havendo, nos últimos anos, uma ampliação do consumo via streaming.

Os vídeos, programas, filmes ou séries são mais assistidos em sítios ou por aplicativos de compartilhamento de vídeos (46%), por aplicativos de mensagens instantâneas (44%), seguidos pelas redes sociais (38%) e por serviços por assinatura (33%). O pagamento para assistir a filmes e séries na Internet ocorre em quase a metade dos indivíduos da classe A, e cerca de um terço da classe B, sendo pouco comum entre usuários das classes C e DE.

Em relação às atividades culturais, a TIC Domicílios 2019 investigou também, de forma inédita, a proporção dos usuários de Internet que escuta podcasts (13%), com predominância entre usuários da classe A (37%) e que possuem ensino superior (26%).

Governo eletrônico

A TIC Domicílios 2019 também mostra que 68% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais usaram serviços eletrônicos oferecidos por órgãos governamentais nos doze meses anteriores à pesquisa, sendo os mais citados: direitos do trabalhador e previdência (36%), impostos e taxas (28%) e documentos pessoais (28%). Apenas 23% buscou ou realizou algum serviço público de saúde, como agendamento de consultas, remédios ou outros serviços.

O perfil de quem utilizou serviços governamentais on-line no período da pesquisa apresenta variação: a proporção é de 46% entre pessoas com 60 anos ou mais e, no recorte por classe socioeconômica, chega a 88% na classe A e 48% nas classes DE. Mais respondentes da classe A (80%) também afirmaram ter baixado aplicativos no celular do que respondentes da classe DE (42%).

“De maneira geral, a pesquisa mostra que atividades culturais, escolares, de trabalho e de serviços públicos na Internet ocorrem em menor proporção entre quem usa a Internet apenas pelo celular e entre aqueles que não possuem banda larga fixa no domicílio. Apesar de os dados terem sido coletados num período prévio à disseminação da pandemia, eles revelam como limitações de acesso podem afetar os estratos mais vulneráveis da população”, comenta Barbosa.

Em sua 15ª edição, a TIC Domicílios realizou entrevistas em 23.490 domicílios em todo o território nacional entre outubro de 2019 e março de 2020, com o objetivo de medir o uso e apropriação das tecnologias da informação e da comunicação nos domicílios, o acesso individual a computadores e à Internet, e atividades desenvolvidas na rede, entre outros indicadores.

Para acessar a TIC Domicílios 2019 na íntegra, assim como rever a série histórica, visite https://cetic.br/pesquisa/domicilios/, onde também estão disponíveis para download as tabelas em português, inglês e espanhol e as bases de microdados da pesquisa.

Compartilhe