Por Ana Claudia Donner Abreu*

A transformação digital do trabalho tem sido um fenômeno crescente nos últimos anos, impulsionada pelo avanço tecnológico e por sua rápida adoção em diversos setores da economia. Países que não conseguem acompanhar esse movimento e não formulam políticas públicas adequadas para lidar com essa mudança podem enfrentar uma série de desafios significativos. Este ensaio tem como objetivo destacar as dificuldades que o Brasil pode enfrentar devido à falta de estratégias eficientes de transformação digital do trabalho.

  1. Desemprego estrutural – um dos principais desafios que o Brasil pode enfrentar pela ausência de políticas públicas de transformação digital do trabalho é o risco de desemprego estrutural. A automação e a implementação de tecnologias disruptivas podem levar à substituição de pessoas por máquinas e algoritmos, resultando em um desequilíbrio entre a oferta e demanda de empregos. Aqueles que não possuem habilidades digitais ou não têm acesso a programas de qualificação e requalificação podem ficar desempregados por um período;
  2. Desigualdade e exclusão social – a transformação digital do trabalho pode aprofundar as desigualdades sociais. Aqueles que têm acesso limitado à educação de qualidade ou a infraestrutura tecnológica podem ficar marginalizados do mercado de trabalho digitalizado. Além disso, certos grupos socioeconômicos, como idosos e pessoas com deficiência, podem enfrentar barreiras adicionais para acompanhar as mudanças tecnológicas;
  3. Estagnação econômica – a falta de políticas públicas efetivas para a transformação digital do trabalho pode prejudicar nosso crescimento econômico. A modernização dos processos de produção, distribuição e prestação de serviços impulsionada pela transformação digital é crucial para aumentar a eficiência e competitividade das empresas, das Cidades, dos Países. A estagnação, nesse contexto, pode levar à perda de investimentos externos e enfraquecer o ambiente de negócios;
  4. Necessidade de adaptação da legislação trabalhista – a transformação digital do trabalho traz desafios para a legislação trabalhista existente. Novas formas de trabalho, como o teletrabalho e as plataformas digitais, demandam regulamentações atualizadas para garantir proteção aos direitos dos trabalhadores, definição de jornadas, remuneração adequada e segurança no ambiente de trabalho . A falta de ajustes nessa área pode levar a conflitos e instabilidade nas relações trabalhistas;
  5. Competitividade global – a ausência de políticas públicas de transformação digital pode comprometer a competitividade do Brasil no cenário global. Países que investem em infraestrutura digital, educação tecnológica e pesquisa e desenvolvimento têm vantagens competitivas no mercado internacional. A falta de visão estratégica nesse sentido pode resultar em uma posição de desvantagem em relação a outros países que abraçam a transformação digital e  estruturam políticas para qualificar e requalificar as pessoas;

Em um mundo cada vez mais digital, a transformação do trabalho é inevitável. Aqueles países que não formulam políticas públicas adequadas para abraçar essas mudanças enfrentam uma série de dificuldades, como se tentou demonstrar . Portanto, é fundamental que o Brasil reconheça a importância de formular políticas públicas que resultem em estratégias para enfrentar o desafio da transformação digital do trabalho, promovendo a inclusão, a adaptação das leis trabalhistas e o desenvolvimento socioeconômico como um todo.

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*Pesquisadora THINK TANK ABES – IEA/USP e Pesquisadora Sênior do Laboratório de Engenharia da Integração e Governança do Conhecimento do PPGEGC/UFSC.

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