Por Leonardo Melo Lins*

O uso de computação em nuvem é cada vez mais algo corriqueiro atualmente em diversas organizações. A maioria dos serviços de software oferecidos são disponibilizados pela nuvem, bem como o armazenamento de arquivos e dados em dispositivo físico é algo do passado. Dois exemplos anedóticos nos ajudam a reconhecer o momento atual: quando foi a última vez que você precisou de um CD para instalar algum software? O outro exemplo pretende ser mais recente: e o sumiço de dispositivos como pen-drives? Recentemente presenciei uma situação em que foi necessário um pen-drive para mover arquivos e foi interessante a percepção geral de que não temos mais esses dispositivos espalhados por todos os lugares.

Além de facilitar a troca e mobilidade da informação, os serviços em nuvem possuem papel de facilitadores da transformação digital, uma vez que possibilitam o tratamento e análise de grandes volumes de dados, bem como a operação de diversos serviços automatizados que observamos nas mais diversas organizações. Neste artigo, o objetivo é discutir o uso de serviços em nuvem em três tipos de organizações: órgãos públicos, estabelecimentos de saúde e empresas. Os dados utilizados são provenientes das pesquisas TIC Governo Eletrônico, TIC Saúde e TIC Empresas, conduzidas pelo Cetic.br.

O serviço em nuvem mais usado pelo setor público brasileiro é o “armazenamento de arquivos ou banco de dado em nuvem”, presente em 64% dos órgãos públicos que possuem área de TI, seguido do uso de “email em nuvem. É interessante observar que há maior uso de serviços em nuvem no nível federal do que estadual e que estes serviços estão relacionados ao uso que discutimos no início: a maior parte do uso diz ao deslocamento para a nuvem em detrimento do meio físico, sendo muito mais uma adaptação das empresas que ofertam serviço do que de fato o desenvolvimento de uma capacitação. Um exemplo dessa situação é que apenas 27% dos órgãos públicos contrataram a “capacidade de processamento em nuvem”, requisito básico para alavancar a transformação digital dos serviços oferecidos.

Gráfico 1 – Órgãos públicos federais e estaduais que contrataram serviços de computação em nuvem, por tipo de serviço (2021)

Total de órgãos públicos federais e estaduais com área ou departamento de tecnologia da informação (%)

 

A situação no setor de saúde não é tão diferente observada no setor público, com um uso relacionado ao oferecimento de serviços, mas com acentuada vantagem dos estabelecimentos de saúde privados. Tendo como foco serviços em nuvem mais complexos, dentre os estabelecimentos de saúde que possuem área de TI, 41% afirmaram usar “capacidade de processamento em nuvem”, sobretudo nos estabelecimentos privados e voltados ao serviço de apoio à diagnose e terapia. É interessante observar a distinção na esfera administrativa no uso de “armazenamento de arquivos ou banco de dados em nuvem”, presente em 46% dos estabelecimentos públicos e em 66% dos estabelecimentos privados.

Gráfico 2 – Estabelecimentos de saúde que utilizaram serviços em nuvem (2022)

Total de estabelecimentos de saúde que possuem departamento ou área de tecnologia da informação

 

Entre as empresas, observa-se uma situação semelhante aos casos observados até agora, com o uso para serviços cotidianos bem disseminado, mas pouca presença de serviços em nuvem mais complexos. Somente 29% das empresas afirmaram usar “capacidade de processamento em nuvem”, sendo em sua maioria grandes empresas[1].  Outro dado que reforça o caráter de solução oferecida pelo mercado no uso de nuvem é que 44% das empresas usaram “software de segurança em nuvem”, sendo o uso mais feito pelas grandes empresas (76%). Usos mais complexos como ambientes compartilhados para teste não chegam à 22% das empresas. No geral, como era de se esperar, há maior diversidade de uso entre as grandes empresas e um momento bem incipiente nas pequenas.

Gráfico 3 – Empresas que pagaram por serviço em nuvem, por tipo (2021)

Total de empresas que usaram Internet (%)

 

O que os dados discutidos mostram é que há um longo caminho para uma transição para a nuvem, no qual as mais diversas organizações irão oferecer seus serviços de forma mais eficiente, bem como manter parte de sua operação em um ambiente digital mais seguro. Há sem dúvidas espaço para o crescimento dos serviços em nuvem, mas será necessário soluções criativas para fazer com que as mais diversas organizações reconheçam sua importância.

Residem aqui desafios das mais diversas origens para a expansão do uso de serviços em nuvem, sobretudo capacidade de investimento e de conectividade que suporte as necessidades de uma operação automatizada. A maioria das organizações faz um uso básico da internet, com pouca exposição online e conexões destinadas somente a realizar atividades cotidianas, não tão diferentes dos usos de uma pessoa física. Há ainda o desafio de superar certa tradição de uso de informações em papel, sobretudo no caso de estabelecimentos de saúde que não possuem prontuários eletrônicos e pequenas empresas que não usam a conexão para auxiliar suas tarefas.

O avanço dos serviços em nuvem é garantia de eficiência nos serviços das mais diversas organizações, sejam elas empresas privadas, estabelecimento de saúde ou órgãos de governos, sendo importantes tanto para gerar ganhos dentro do paradigma da economia digital, quanto na garantia de direitos fundamentais.

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*Pesquisador do Think Tank da ABES, membro do Programa de Pós-Doutorado do IEA/USP e Analista do Cetic.br | NIC.br

[1] Vale salientar que os indicadores de uso de serviços em nuvem da pesquisa TIC Empresas, TIC Saúde e TIC Governo Eletrônico são elaborados tendo como referencial a pesquisa sobre uso de TICs nas empresas europeias conduzida pela Gabinete de Estatística Europeu (Eurostat). Na pesquisa TIC Empresas foi decidido usar toda a lista de usos de nuvem, buscando caracterizar mais amplamente os usos no país e possibilitando uma comparação mais completa com os países europeus.

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