Por Natália Marroni Borges*

Em meio às revoluções trazidas pela crescente viabilidade e popularização da inteligência artificial (IA), é imperativo ponderarmos sobre as estratégias adotadas pelo Brasil no que diz respeito à incorporação dessa tecnologia. Quais investimentos estão sendo feitos pelos nossos representantes? Quais recursos financeiros estão destinados para o estímulo da IA? Quantos projetos focados nesse tema estão sendo realizados? Quais órgãos governamentais se sobressaem no desenvolvimento e utilização da IA?

Infelizmente, as informações consolidadas a respeito desses tópicos (e outros) permanecem insuficientes. Não dispomos de uma estrutura unificada que compile esses dados e forneça uma perspectiva holística. Persistimos na abordagem fragmentada de um assunto cada vez mais relevante. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, esse enfoque fragmentário à uma tecnologia com o potencial da IA configura-se como uma lacuna expressiva.

Um dos principais problemas decorrentes dessa lacuna é a redundância do trabalho, causada pela limitada troca de informações. Atualmente, uma agência governamental que pretende empregar a IA provavelmente terá que ‘reinventar a roda’, uma vez que soluções similares já foram desenvolvidas em outros órgãos, mas não estão disponíveis para compartilhamento, resultando numa duplicação desnecessária de esforços e recursos.

Outra questão a ser ponderada se refere ao processo de contratação, particularmente em uma esfera governamental, o qual se mostra complexo e sensível. É comum que cada órgão conduza estudos independentes sobre fornecedores e soluções, mesmo quando outras instituições já realizaram o mesmo processo. Esse dispêndio de tempo e recursos poderia ser evitado por meio de uma partilha efetiva dessas informações.

Além disso, é necessário levar em conta aspectos relativos à gestão da IA. Quais são os fatores de sucesso críticos para um projeto de IA no contexto governamental? Quais são as diretrizes para órgãos interessados em implementar a IA em seus processos? Quais informações estão disponíveis para estabelecer uma estratégia de médio e longo prazo sobre alocação de recursos? E como podemos orientar uma visão prospectiva, compreendendo cenários futuros para algo que, inevitavelmente, deve promover alterações nas estruturas de trabalho tradicionais às quais estamos acostumados?

A proposta de estabelecer uma plataforma unificada para centralizar e partilhar tais informações não é apenas uma solução adicional, mas uma maneira eficiente de estruturar a IA no contexto brasileiro. Por meio de uma estratégia integrada, é possível otimizar a utilização de recursos e promover uma adoção mais eficaz da IA na administração pública.

Cabe salientar ainda que a implementação de tecnologias de IA pode ter custos elevados, tornando a otimização dos recursos ainda mais vital. A experiência na adoção da IA será aprimorada quanto mais informações forem compartilhadas entre os diferentes órgãos. Isso beneficiará o país de forma integral, acelerando o processo de adoção e aumentando nossa competitividade enquanto nação. Nesta linha, é importante que o Brasil avalie seriamente a adoção de uma abordagem coesa e unificada no desenvolvimento da Inteligência Artificial. A estruturação de uma plataforma que facilite a partilha de conhecimento, recursos e experiências – a exemplo do que já vem sendo testado no continente europeu, com o “AI Watch” – será fundamental para impulsionar efetivamente a IA em nossa nação. Esse pode ser mais um caminho para maximizar a eficiência e o impacto positivo dessa tecnologia em nossa sociedade.

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*Pesquisadora no Think Tank da ABES, Pesquisadora membro do grupo IEA Future Lab (vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS), Pós-doutoranda em Inteligência Artificial e Foresight e professora na UFRGS

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