Fonte: Embrapa
Radar Agtech aponta ainda que, no Brasil, essas empresas cresceram de 1.703 para 1.953 em relação a 2022
O Radar Agtech Brasil 2023, lançado no dia 4 de dezembro de forma híbrida na Sede da Embrapa em Brasília, DF, teve como grande novidade este ano o crescimento significativo de startups na Região Norte do País. De 26 empresas, em 2022, o número mais do que quadruplicou, passando para 116 em 2023. Esse mapeamento anual das startups do agro brasileiro, também conhecidas por agtechs ou agritechs, foi desenvolvido em conjunto entre a Embrapa, a SP Ventures e a Homo Ludens, e já é referência por oferecer informações atualizadas sobre perfil, segmento, área de atuação e localização dessas empresas no Brasil. Além disso, identifica ambientes de inovação e o cenário de investimento para esse setor, possibilitando a conexão de agtechs a variados ecossistemas, em níveis nacional e internacional.
O estudo começou em 2019 e mostra uma evolução constante desde então. Entre 2022 e 2023, houve um crescimento de 14,7% das startups que atuam no agro no País, de 1.703 para 1.953. A maior parte das agtechs mapeadas se encontra nas regiões Sudeste (56,9%) e Sul (26%), como pode ser visualizado na Figura 1.
Figura 1: Distribuição de agtechs no Brasil
Segundo o analista da Embrapa Cleidson Nogueira, o levantamento é feito com base em uma metodologia que considera duas frentes: uma por adesão voluntária, a partir da qual as empresas se cadastram no site do Radar Agtech de modo contínuo ou a partir de um convite público. A outra é baseada no mapeamento de startups que interagem com as instituições desenvolvedoras desse estudo e a consulta às principais listas disponíveis no Brasil, a exemplo de entidades apoiadoras como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de ambientes de Inovação como o Supera Parque (Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto) e de iniciativas de inovação com as startups. “O número de startups que aderiram de forma voluntária à nossa base dobrou em relação ao ano passado, de 200 para aproximadamente 400”, comemora Nogueira.
Entre as cidades com maior número de startups do agro (vide Figura 2), as dez primeiras colocações contêm municípios das regiões Sudeste e Sul, sendo sete deles do Sudeste, dos quais cinco do estado de São Paulo. Vale destacar a cidade de Curitiba, no Paraná, que assumiu a segunda colocação, abaixo apenas de São Paulo capital, com um número muito superior às demais. Se ampliarmos o recorte para os 20 primeiros no ranking, conseguimos visualizar cidades do Centro-Oeste, Goiânia (GO) e Brasília (DF), bem como da região Norte do Brasil, como Manaus (AM) e Belém (PA).
Figura 2: Cidades com o maior número de agtechs
Sustentabilidade pauta crescimento das agtechsVale ressaltar também que a sustentabilidade foi um dos temas que mais pautou o crescimento das startups do agro em 2023. Na categoria “Biodiversidade da sustentabilidade”, o crescimento foi de 124,30% (de 37 para 83); em “Bioenergia e energia renovável”, de 34,60% (de 26 para 35); Segurança e rastreabilidade de alimentos, de 56,62% (de 13 para 21); “Controle Biológico e Manejo Integrado de Pragas”, de 30,56% (de 36 para 45) e em “Sistemas de embalagem, meio ambiente e reciclagem”, de 12,50% (24 para 27), Esses dados totalizam um aumento de 55,15% em relação ao ano passado no número de startups com tecnologias sustentáveis contidas nessas categorias mencionadas. “É uma comprovação do protagonismo do tema no contexto da agropecuária atual”, reforça o analista. A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destaca a importância da movimentação das agtechs paras as regiões Norte e Nordeste do País. Segundo ela, esse crescimento está muito relacionado à questão da sustentabilidade não só do ponto de vista econõmico, mas ambiental e social. “O documento mostra que esse apelo está se reletindo também nas empresas privadas, corroborando a integração de todos os setores na definição de números e métricas que comprovem a sustentabilidade da agropecuária brasleira”, reforça. Outro dado ressaltado por ela é o aumento das startups dentro da fazenda em relaçao a 2022. Isso mostra que, cada vez mais, os produtores de todos os portes, especialmente os pequenos e médios, estão percebendo a importância da inovação e da tecnologia em suas propriedades, contribuindo para um ecossistema cada vez integrado. “O Radar Agtech tem comprovado que as startups estão dando continuidade às ações de pesquisa e inovação iniciadasc pelas instituições de pesquisa e ensino, levando as tecnologias para dentro da fazenda e também para o mercado. Para nós, essa interação com o setor privado é muito importante para a geração de inovação em prol do agro do País”, enfatiza a presidente, Outra dimensão importante é o crescimento da participação de mulheres no agro brasileiro. De acordo com ela, a agricultura é um ambiente predominantemente masculino, mas as mulheres já participam de forma contundente há anos. “Levantamentos, como o do Radar Agtech, tiram essas mulheres da invisibilidade”, comenta. Na visão de Massruhá, o Radar aponta como um dos principais desafios a integração entre todos os setores, incluindo pesquisa, empresas privadas, startups e investidores, para fortalecer a inovação no campo e agregar valor aos sistemas de produção. |
Estudo aborda, pela primeira vez, talentos e diversidade de gênerosO cofundador e sócio da Homo Ludens, Luiz Sakuda, salienta que, a cada edição, a equipe do Radar Agtech Brasil procura aperfeiçoar o mapeamento das agtechs e dos perfis levantados. “O objetivo continua o mesmo: prover conhecimento para apoiar empreendedores, gestores de políticas públicas, investidores, pesquisadores e organizações interessadas em colaborar com startups para a tomada de decisões em suas organizações”. Este ano, o Radar Agtech traz como novidade um levantamento sobre a distribuição de pessoas sócias e colaboradoras em agtechs, considerando gênero e área de atuação na empresa. Entre as pessoas sócias, observa-se um crescimento na participação de mulheres de aproximadamente 8% em relação ao ano passado, em 2022, uma vez que 28,7% das agtechs possuíam ao menos uma mulher em sua estrutura societária, valor que cresceu para 36,4% em 2023, com base em uma amostra ampliada com 711 staturps. Adicionalmente, com as respostas de 247 agtechs, nota-se que entre as startups respondentes houve uma predominância de homens (76,9%) e, também, foi possível analisar que a distribuição de pessoas sócias nas áreas de negócios das agtechs respondentes revela proporções semelhantes de homens, mulheres e não-binárias em todas as áreas, com a presença masculina variando entre 75,5% e 79%, aproximando-se da média geral de 76,9%. Ao examinar as pessoas colaboradoras, identifica-se uma distribuição equitativa entre homens, mulheres e não binárias em todas as áreas, embora a predominância masculina seja menor que a média geral (61,8%). Nas áreas mais técnicas, a proporção de homens é superior à média geral, alcançando 69,9% em produção e operações e 71,6% em pesquisa e desenvolvimento. Duas áreas apresentam proporção masculina acima de 50%, mas inferior à média: 54,1% em marketing e vendas e 51,9% em outras áreas do negócio. Destaca-se a área administrativa e financeira como a única com uma proporção maior de mulheres (55,3%). A representação majoritária de homens como sócios é evidente em todas as áreas da empresa, inclusive nas mais técnicas. Essa observação levanta desafios, como a necessidade de atrair e reter talentos diversos para carreiras empreendedoras como pessoas sócias, bem como diversificar o quadro de talentos nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), particularmente em pesquisa e desenvolvimento e produção e operações. |
Análise considera o antes, durante e fora da fazendaUma parte importante após a realização do mapeamento é aproveitar as informações levantadas para compreender como está distribuído o ecossistema de inovação do agro entre as diversas cadeias produtivas. Assim, o Radar Agtech considera a atuação das startups em três segmentos:
Em 2023, o Radar Agtech Brasil identificou 331 agtechs (16,95%) atuando antes da fazenda, 815 dentro da fazenda (41,73%) e 807 depois da fazenda (41,32%), conforme mostra a figura abaixo: |
Levantamento comprova importância da transição alimentar
Além de identificar a quantidade de agtechs por segmentos produtivos, o documento oferece um levantamento detalhado sobre os tipos de startups que dominam cada um deles.
Um ponto importante é observar que no segmento “depois da fazenda”, a categoria “alimentos inovadores e novas tendências alimentares” é o grande destaque, com 277 agtechs, o que representa 34% do total nesse segmento. Esse dado confirma as tendências de consumo de alimentos, envolvendo menos quantidade de proteína animal, maior busca por dietas saudáveis e por alimentos certificados e rastreados. Destacam-se as alternativas que vêm sendo oferecidas pelas startups desta categoria, também conhecidas como foodtechs.
Vale lembrar que a transição alimentar é um dos principais pilares da nova gestão de PD&I da Embrapa junto com a transição energética, inclusão socioprodutiva, digitalização no campo e saúde única.
No segmento “antes da fazenda”, as categorias com maior percentual são: “crédito, permuta, seguro, créditos de carbono e análise fiduciária” com 25%; “fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal” com 22%; e “análise laboratorial” com 15% das startups do segmento. Nogueira explica que se, por um lado, as categorias com maior porcentual podem indicar as tendências, por outro, as com menor participação percentual também podem apontar oportunidades para empreendedores. Em 2023, as que tiveram menor participação foram as de genômica vegetal (11%) e animal (6%) e marketplaces de insumos (com 10%).
Já dentro da fazenda, as categorias com maior representação percentual são: o sistema de gestão de propriedade rural 20,8%), plataforma integradora de sistemas, soluções e dados (17,9%), drones, máquinas e equipamentos (12%) e sensoriamento remoto, diagnóstico e monitoramento por imagens (10,3%). São 498 agtechs classificadas nessas quatro categorias, representando 25,5% das startups mapeadas em 2023.
As categorias com menor presença de agtechs e que, por isso, podem representar janelas de oportunidades para novos empreendedores do setor são: conectividade e telecomunicação e apicultura e polinização.
Digitalização no campo: oportunidades e desafiosCom relação às grandes tendências tecnológicas e de mercado, as agtechs apontam a intensificação no uso de tecnologias mais complexas. Dentre elas, é importante destacar: inteligência artificial; IoT (internet das coisas); automação; digitalização; machine learning (aprendizado das máquinas); aumento da conectividade e do uso de sensores. Para o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital (SP), Stanley Oliveira, esse movimento está alinhado ao que chamamos de transformação digital da agropecuária, caracterizado pelo forte emprego de conteúdo digital, tecnologias emergentes e conectividade em todos os elos da cadeia produtiva. “A agropecuária é um dos setores com mais oportunidades de implementação dessas novas tecnologias digitais, buscando aumentar a resiliência, a produtividade e a sustentabilidade, oferecendo maior transparência e confiabilidade às atividades de toda a cadeia, desde a produção na fazenda até a mesa do consumidor”. Apesar de entender que as tecnologias de ponta provavelmente configuram o futuro da agropecuária, ainda existem grandes limitadores no Brasil, como a baixa presença da rede de telefonia no campo e a lenta instalação da rede 5G no país. Segundo o chefe-geral da Embrapa Instrumentação (SP), José Marconcini, o Radar Agtech contribui para o desenvolvimento da agropecuária, ampliando o acesso à tecnologia a pequenos, médios e grandes agricultores. A Embrapa Instrumentação tem parceria com 13 startups, atuando em diversas cadeias produtivas e exportando equipamentos para mais de 20 países. |
O protagonismo da Região Norte e a bioeconomiaO crescimento de agtechs na Região Norte reflete o fortalecimento da bioeconomia, especialmente na região amazônica, ao mesmo tempo em que pavimenta o caminho para o crescimento de ações de PD&I que fortaleçam essas pesquisas. Para a diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler, a bioeconomia deve orientar o desenvolvimento na região. Ela diz ser necessário estruturar as cadeias de valor com investimentos em infraestrutura, formação de capital humano e tecnologias (sociais, digitais, biotecnológicas). O ecossistema de inovação da Embrapa na Amazônia Legal tem gerado soluções tecnológicas e sociais para os setores agropecuário, florestal e agroindustrial com foco, entre outros temas, em sistemas agroflorestais, manejo florestal sustentável (produtos madeireiros e não madeireiros), lavoura e pecuária (ILP) e lavoura, pecuária e floresta (ILPF) sistemas de produção de pecuária de carne e leite, aquicultura, fruticultura e grãos. Um estudo da The Nature Conservancy (TNC Brasil) estima que, somente no estado do Pará, 30 produtos de cadeias da chamada sociobiodiversidade responderam por uma renda de cerca de 5,4 bilhões de reais, gerando 224 mil empregos, 84% deles em estruturas produtivas de base familiar. Leia mais em: Bioeconomia inclusiva na Amazônia pode beneficiar 750 mil famílias |
Agtechs e ODSO Radar Agtech também conduz um levantamento para compreender melhor o perfil e as demandas das startups, uma vez que em uma amostra de 247 agtechs, observou-se que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com maior identificação continuam sendo Fome zero e agricultura sustentável (62,3%); Consumo e produção responsáveis (54,4%); e Indústria, inovação e infraestrutura (48,8%), em continuidade a 2022. Por outro lado, o levantamento de 2023 mostra maior esforço das agtechs para alcançar os ODS. Houve um incremento percentual médio de 10,6% nas menções em 13 dos 17 ODS. |