Fonte: Cetic.br

Estudo do Cetic.br|NIC.br entrevistou agentes, instituições culturais e plataformas digitais que atuam no país

Inédita no país e com tema pouco explorado ao redor do mundo, a publicação “Inteligência Artificial e cultura: perspectivas para a diversidade cultural na era digital” revela que o uso de IA é ainda incipiente no setor cultural brasileiro, com exceção da distribuição e do acesso a conteúdo online por meio das grandes plataformas digitais. Realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), em debate que integrou a agenda da “Conferência Mundial da UNESCO sobre Políticas Culturais e Desenvolvimento Sustentável – MONDIACULT 2022″.

Parte da série Cadernos NIC.br de Estudos Setoriais, o levantamento traz um panorama de como a área da cultura tem usado tecnologias emergentes como a IA. Os dados foram coletados em pesquisa qualitativa, realizada com agentes culturais (artistas e produtores), instituições culturais (museus e centros culturais), e plataformas digitais que oferecem conteúdos culturais na Internet. Além do levantamento, a publicação também traz textos e artigos de especialistas no assunto.

“A IA está presente, não apenas nos sistemas de recomendação de conteúdos baseados em algoritmos, como também na criação de obras artísticas por mecanismos de aprendizagem de máquina, na produção, edição e adaptação de conteúdos, na mediação cultural para visitas guiadas nas instituições culturais, no atendimento ao público por meio de assistentes virtuais, na organização e disponibilização de acervos digitais, na gestão cultural e análise de dados para mapeamento de públicos e desenvolvimento de estratégias promocionais, entre muitas outras aplicações. São diversos usos que, em maior ou menor escala, têm implicações para a diversidade de expressões culturais”, destaca Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.

Plataformas digitais

Os “sistemas de recomendação” são a principal aplicação de Inteligência Artificial utilizada pelas plataformas digitais. Eles definem os conteúdos a serem oferecidos com base em critérios relacionados aos hábitos de consumo e escolhas prévias dos usuários.

Nas plataformas digitais que atuam no cenário brasileiro, há uma diferenciação quanto à utilização desses algoritmos. As grandes plataformas comerciais, que possuem maior volume de usuários, têm na IA um elemento central de seu modelo de negócio, sendo os sistemas de recomendação algorítmica a principal tecnologia para oferta personalizada de conteúdos culturais, sobretudo músicas e vídeos.

“Se, por um lado, esse processo viabiliza a personalização da experiência com base nas preferências dos usuários, por outro também reforça padrões de consumo e direciona o acesso a conteúdos populares, podendo gerar a sub-representação de conteúdos locais e de produção independente, e apresentar como efeito tendências homogeneizantes na criação e a produção de novas obras”, analisa Barbosa.

O estudo mostra, ainda, que plataformas alternativas de caráter público ou independente, com menor volume de usuários, apresentam baixo uso de aplicações de IA, prevalecendo a curadoria humana – o que pode ser fruto de barreiras institucionais (como a falta de orçamento e equipe técnica), mas também de escolhas programáticas que objetivam a difusão de conteúdos representativos da diversidade cultural.

Instituições culturais

Entre instituições culturais, o emprego de sistemas de IA no cenário brasileiro se dá, em especial, para a mediação cultural, o mapeamento de públicos e a gestão e difusão de acervos digitais.

De acordo com o estudo, tais usos têm permitido maior interatividade do público com as obras, e a personalização das experiências dos visitantes, bem como fornecido dados para o planejamento de ações por parte das instituições. Em termos da gestão e difusão de acervos digitais, a IA tem sido utilizada na qualificação da documentação de maneira automatizada e na disponibilização do acesso por meio de sistemas de busca integrada.

O levantamento aponta que a falta de recursos financeiros e de corpo técnico especializado ainda são entraves, o que faz com que os projetos culturais sejam, de maneira geral, realizados por meio de parcerias com grandes empresas e plataformas internacionais, ampliando a dependência de soluções tecnológicas externas.

“De forma geral, o estudo mostra que a agenda estratégica da tecnologia ainda não é assimilada plenamente no setor cultural brasileiro. Apesar de o uso de tecnologias emergentes já estar presente em algumas instituições, ainda há muito o que melhorar em termos de políticas e oportunidades para um melhor aproveitamento e acesso a esses recursos”, finaliza Barbosa.

Agentes culturais

Entre agentes culturais – artistas e produtores culturais no campo das artes visuais e da música – a IA tem sido utilizada em processos criativos com finalidade operacional (em procedimentos como edição, mixagem e masterização), mas também em estética, onde a IA aparece como o próprio objeto finalístico da criação artística.

Nestas etapas, segundo as conclusões do estudo, a popularização de aplicações baseadas em IA tem permitido a otimização de processos e a democratização da produção, trazendo oportunidades para a inserção de novos profissionais no setor cultural. No entanto, tais oportunidades ainda são limitadas por conta das desigualdades digitais no acesso e apropriação das tecnologias existentes no país.

Para acessar o estudo completo, acesse https://cetic.br/pt/publicacao/inteligencia-artificial-e-cultura-perspectivas-para-a-diversidade-cultural-na-era-digital/. Veja também o debate de lançamento da publicação: https://youtube.com/playlist?list=PLQq8-9yVHyOaGCptdvg6oxaK6QZKs-HT-.

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