Por Valmor Bosi*
Qual foi a última vez que você fez uma compra com dinheiro em espécie? Fora situações bem pontuais, certamente os cartões e gadgets conectados são sua principal forma de pagamento. Isso significa, então, que as notas e moedas estão em extinção, certo? Não é bem assim: quase 50 milhões de brasileiros seguem sem conta em bancos, movimentando mais de R$ 800 bilhões anualmente, de acordo com as mais recentes pesquisas do setor.
Evidentemente, estamos falando de uma parcela da população que ainda se sustenta à base das transações locais, em pequenos comércios – mas que movimenta, inegavelmente, um grande montante de dinheiro. Segundo dados do instituto Locomotiva, estamos falando de 29% da população adulta do País que segue vivendo, basicamente, sem acesso a serviços digitais ou crédito.
É preciso mudar esse cenário e a tecnologia tem um papel vital para essa transformação. Manter esses cidadãos fora do modelo digital representa deixar de incluí-los em uma sociedade cada vez mais digitalizada e global – além de não ter acesso ao crédito tradicional, eles também não têm condição de participar de uma série de serviços e mudanças sociais.
Já pensou em como seria sua vida sem o acesso às plataformas de serviços? E sem o Internet Banking? Tudo isso, entretanto, é apenas a parte mais visível das comodidades que a indústria bancária e de pagamento digital tem nos oferecido nos últimos anos. Por dentro, esse sistema possui enormes engrenagens que facilitam as transações e o uso do dinheiro digital com segurança e praticidade.
Evoluir para o caminho digital é uma demanda inegociável para empresas de todos os segmentos. Mas não podemos nos esquecer que boa parcela da população, ainda, está longe de ter acesso a esses avanços. Nesse sentido, acelerar a transformação digital e implementar inovações mais abrangentes é, antes de tudo, uma forma de tornar o mundo mais democrático, acessível e justo.
Como faremos isso? Tornando a realidade das transações cada vez mais simples e eficientes, maximizando as chances para atrair essas pessoas que, hoje, preferem viver fora dos bancos. De acordo com a pesquisa citada anteriormente, 60% dos desbancarizados são mulheres – a maioria delas desempregadas, vivendo com renda esporádica.
Além disso, quase 70% dos brasileiros que não têm conta em banco admitem que compram e deixam para pagar suas compras no final do mês. Isso nos leva a outra questão: grande parte dessas mulheres, provavelmente, também são responsáveis pelas compras diárias da família. Como elas fazem isso? Com dinheiro vivo. Vale dizer, todavia, que elas gostariam de ter outras opções de pagamento – segundo os levantamentos, 51% dos “sem-banco” afirmam que já compraram com cartão emprestado.
Seja como for, independentemente dos bancos, é preciso dar opções para que as pessoas tenham acesso aos serviços de pagamento digital. Neste caso, a tecnologia é o que pode tornar isso possível, ampliando a condição para que mais pessoas consumam serviços e produtos de novas maneiras, mesmo longe dos grandes centros e das novas gerações de dispositivos inteligentes. Para isso, temos de valorizar as características locais, entender o que os consumidores e vendedores mais precisam e construir soluções confiáveis e diretas, longe de qualquer complicação.
Precisamos, portanto, pensar naqueles que estão distantes dos centros comerciais e agências bancárias. Há um mundo inteiro precisando de atenção, e a indústria de pagamentos digitais precisa dar atenção a essas pessoas. Como exemplo, vale destacar o grande impacto provocado pela disponibilidade de uso do auxílio emergencial sem cartão como forma de circulação de moeda e opção de pagamento, especialmente em tempos de Covid-19.
Não resta dúvida de que o caminho é pensar em soluções acessíveis e que atendam e agilizem essa necessidade. O que temos de entender é que, incluir mais gente na economia, é importante para o País e, em último caso, essencial também para consolidar serviços e saídas que serão certamente de grande valia para todos nós.
O mundo está evoluindo e compartilhar essa transformação é rentável e positivo para a cadeia completa: das grandes companhias aos pequenos comércios locais, todos podem ganhar com a digitalização e a inovação que permitam o maior acesso da população aos serviços de pagamento digital. É preciso ir mais longe e oferecer mais opções para todos.
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*CEO da RV Digital