Fonte: UFABC – Universidade Federal do ABC
Modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros aponta: mesmo que o atual surto diminua, isolamento social é a principal medida de controle para prevenir novas ondas de contágio
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do ABC e da Universidade de Bristol construiu um software que simula diferentes cenários de evolução da transmissão comunitária do Coronavírus (Covid-19). As análises apontam que, sob determinadas condições, como o confinamento das pessoas, reintrodução do vírus no ambiente, imunidade ou mutação das cepas do vírus, o novo Coronavírus pode perpetuar-se, levando a surtos de epidemia recorrentes por tempo indeterminado, o que levaria a população a novos períodos de confinamento e a impactos econômicos ainda mais profundos até a criação e popularização de vacinas e outros tratamentos.
Segundo a análise dos acadêmicos, a saída da quarentena e do isolamento nos países também será um fator decisivo, pois fazer isso antecipadamente pode reiniciar um processo agudo de contaminação.
“Todos os casos simulados reforçam a eficácia da estratégia de confinamento máximo, extremo, como a melhor forma de achatar a curva de dispersão do vírus, mas a eficácia mais garantida depende de uma alta porcentagem de isolamento de aproximadamente 90% das pessoas durante os surtos de contaminação”, aponta José Paulo Guedes, um dos autores, Economista e professor da UFABC. Junto com ele, assinam a pesquisa e o código do simulador Patrícia Camargo Magalhães (Física, Pós-Doutoranda na Universidade de Bristol) e Carlos da Silva dos Santos (Cientista da Computação, professor da UFABC).
A ferramenta está disponível on-line e pode ser abastecida livremente por usuários para simulações, usando parâmetros como densidade populacional, imunidade, capacidade e janela de transmissão, entre outros. O software foi adaptado de um modelo desenvolvido em 1998 que simula a disseminação do vírus da gripe, agora reprogramado com as condições conhecidas do novo “supervírus”.
O draft do artigo acadêmico apresentado pelo grupo de pesquisadores avaliou diferentes cenários, sendo que o mais pessimista deles considera a inexistência de confinamento e isolamento: neste caso, enfrentaríamos uma recorrência de surtos de contaminação social (crescimento seguido de baixas) em curtos períodos de tempo e a convivência com o Coronavírus por tempo indeterminado. Segundo Guedes, como um agente contaminado é reintroduzido a cada três meses no ambiente, mesmo que tenhamos alta imunidade ao vírus, o comportamento cíclico de contágio só cessaria caso fosse estabelecido isolamento de aproximadamente 90% da população durante os surtos. “Além do fator social evidente, podemos dizer que a previsão atual de quedas drásticas nos PIBs dos países desenvolvidos, algo que pode chegar até -18%, será ainda pior em um cenário cíclico”, comenta o pesquisador.
Os pesquisadores desenvolveram a plataforma de maneira independente e agora buscam financiamento de agências de fomento à pesquisa para ampliar as variáveis e envolver especialistas de outras áreas. “Deixamos o software aberto para uso público porque as simulações servem tanto para fins educacionais e de pesquisa, como podem ser utilizadas, ainda que de forma cautelosa, como ferramenta para a tomada de decisões”, explica Guedes.
Referências:
Modelo on-line (veja como mexer nos parâmetros em “Model Info”)
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