Por Ana Cláudia Donner Abreu*

Embora a transformação digital e o futuro do trabalho sejam temas que vem sendo discutidos nos últimos anos, ainda existem lacunas de compreensão importantes que precisam ser preenchidas em ambos os campos e, sobretudo, na relação entre eles. Uma dessas lacunas inclui os efeitos dessa transformação na capacitação da força de trabalho para um futuro que é complexo, difuso e inovador. Então, basicamente: como preparar as pessoas para o futuro do trabalho? Para a adoção de políticas de desenvolvimento e, consequentemente, para a redução das desigualdades sociais, é importante procurarmos respostas para essa pergunta.

Pensando nisso, a ABES convocou um primeiro grupo de pesquisadores para formar um THINK TANK em parceria com o IEA – Instituto de Estudos Avançados – da USP com o objetivo de promover esses e outros debates. De minha parte, propus estruturar uma pesquisa para verificar políticas públicas implementadas no Brasil que ajudam as pessoas a se adaptarem às mudanças no trabalho. Ainda que se conheçam iniciativas da adoção de políticas públicas para mitigar os efeitos da transformação digital em diferentes aspectos, há que se estabelecer uma relação dessas políticas com o futuro do trabalho e parâmetros para a análise de seus impactos, sejam estes positivos ou negativos.

Na economia baseada em conhecimento, com desafios permanentes nas organizações que vão desde a automação e automatização de tarefas até a governança multinível e a gestão colaborativa com redes de aprendizagem, é demanda recorrente a formação de pessoas qualificadas no Brasil. Temos que que pensar, além de tudo, que muitas vezes esse trabalho ainda nem existe, de modo que devemos ser capazes de entender os cenários que nos cercam.

O futuro chega, estejamos ou não preparados para ele. Acontece que no mundo de hoje o futuro é o presente. Os desafios vão se impor e antevê-los é papel de todos que se preocupam com as mudanças e seus impactos sobre a vida das pessoas, sobre o que os novos tempos nos trazem de ameaças e de oportunidades.

Importante que a ABES abra esse espaço de reflexão para que, juntos, possamos verificar, analisar e propor soluções para as diferentes questões que envolvem nosso mundo pós-moderno. Não acho que seja fácil, não acredito em resposta e proposta única. Por outro lado, acredito na pesquisa como fonte de conhecimento e encaminhamento. Ademais, como diria Raul Seixas “não vou ficar com a boca escancarada cheia de dente, esperando a morte chegar”.

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*Pesquisadora THINK TANK ABES – IEA/USP e Pesquisadora Sênior do Laboratório de Engenharia da Integração e Governança do Conhecimento do PPGEGC/UFSC

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