A saúde é um setor que já usa muita tecnologia para exames, tratamentos e procedimentos cirúrgicos. Mesmo assim, quem atua no segmento identifica muitas oportunidades de avanços, diante das inovações oferecidas por novas tecnologias, tais como inteligência artificial, machine learning, integração e análise de dados, internet das coisas, computação na nuvem, entre outras.

Surgiu então o conceito de Saúde 4.0, que tem como objetivo usar estas tecnologias para melhorar o acesso da população à saúde, aprimorar a gestão dos recursos, aperfeiçoar e acelerar o processo de diagnósticos e os tratamentos e, inclusive, permitir a integração e compartilhamento de dados sobre um paciente na rede de prestadores de serviços da saúde.

Frente às transformações em andamento e os recursos tecnológicos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), lançou, ao fim de 2017, um projeto com o objetivo de promover um cuidado totalmente integrado e com maior resolubilidade aos idosos, por meio do compartilhamento de dados entre os todos os agentes e profissionais da Saúde.

Inicialmente, a iniciativa focada apenas a integração de dados de pacientes idosos, por isso foi denominada de projeto Idoso Bem Cuidado, mas ela acabou sendo ampliada, pois em novembro de 2017, o presidente da República, Michel Temer, decretou a obrigatoriedade de todos os prestadores de serviços de Saúde – nas esferas públicas, suplementar e privada – entregarem um Conjunto Mínimo de Dados (CMD) ao Ministério da Saúde.

Integração e participantes

No projeto da APM e da ANS, um grupo selecionado de empresas do setor suplementar deverá consultar em plataforma digital todas as informações de saúde dos pacientes em um sistema eletrônico, que permitirá universalizar o acesso aos dados por parte de profissionais em toda a rede privada, com segurança máxima e permissão do paciente – que também contribuirá para de racionalizar processos e otimizar investimentos.

Como exemplo, podemos considerar um paciente que acabou de realizar vários exames clínicos e se consulta, frequentemente, com um geriatra, ginecologista e endocrinologista, sendo que nenhum destes especialistas trabalha na mesma clínica ou hospital. No cenário atual, não existe qualquer procedimento de trocar dados entre eles (a não ser em casos mais graves) – cada médico depende apenas do relato do paciente e que ele leva o resultado dos exames à consulta. É esta realidade que o projeto da APM e ANS quer mudar, apoiado pelas novas tecnologias.

“Muitos pacientes têm um histórico médico, em geral, muito grande e que, geralmente, está desorganizado e disperso na rede de saúde. Quando não se tem toda a relação de dados, o prejudicado pode ser o próprio usuário, que não terá o tratamento completo, com a rapidez adequada”, explica o diretor de Tecnologia de Informação da APM, Antônio Carlos Endrigo.

A APM cuidou do desenvolvimento da plataforma na nuvem e do aplicativo com os dados de saúde do idoso, além de sensibilizar os médicos sobre a relevância/segurança de utilização do registro eletrônico compartilhado.

Atualmente, sete empresas (entre sistemas de prontuários, hospitais e planos de saúde) participam do projeto-piloto, construindo um banco de dados com informações de Saúde de, aproximadamente, 15 milhões de pacientes. A ideia é que, no momento de espera da consulta, o paciente receba um comunicado por celular via SMS pedindo autorização para que haja transferência de suas informações para o especialista médico ou demais profissionais da Saúde. Se disser sim, automaticamente os dados resumidos de consultas anteriores vão para o prontuário do especialista.

Projeto em testes

O próximo passo será muito importante para a estruturação do novo modelo do projeto: uma etapa de testes em Caxias do Sul (RS). “Lá, iremos trabalhar com duas operadoras, em um ambiente com poucos hospitais, para testarmos o funcionamento dessa troca de dados. Como o local é pequeno, teremos controle do fluxo de informações compartilhadas e o funcionamento do processo. É uma ação relevante para vermos como se dará na prática”, completa Endrigo.

Esta plataforma se inspirou em modelo similar ao do sistema de saúde inglês, conhecido como NHS. A fase de testes deve se encerrar em julho de 2018, quando o convite para a integração de dados será aberto para interessados.

Voltando ao decreto presidencial, o objetivo do Governo Federal é utilizar os dados integrados para subsidiar as atividades de gestão, planejamento, programação, monitoramento, avaliação e controle dos sistemas e serviços de Saúde. “Ampliamos o escopo do Idoso Bem Cuidado, nosso público inicial do projeto, para atendermos a demanda geral, aumentando a atenção aos pacientes de todas as idades e em linha com novas demandas governamentais”, finaliza Endrigo.

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