Estudo desenvolvido pelas escolas de negócios, já em sua terceira edição, analisou 63 economias no mundo. País melhora sua capacidade de se preparar para o futuro, mas precisa avançar em praticamente todos fatores avaliados

O Brasil permaneceu em 57º lugar no ranking global de Competitividade Digital, resultado de avaliação feita em 63 países pelo Núcleo de Competitividade Global do IMD, escola de negócios da Suíça, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), uma das dez melhores escolas de negócios do mundo (Ranking de Educação Executiva do Financial Times – Edição 2019). Foram utilizados indicadores relacionados a tecnologias digitais como fator-chave para a transformação econômica nos negócios, governos e sociedades em geral.

Para avaliar uma economia, o Núcleo de Competitividade Global examinou três fatores: (i) Conhecimento – a capacidade de entender e aprender novas tecnologias; (ii) Tecnologia – a competência para desenvolver novas inovações digitais; e (iii) Prontidão Futura – a preparação para os desenvolvimentos no futuro.

Este ano, duas novas variáveis foram introduzidas na análise: (iv) robô industrial, para medir o número total de robôs em operação; e (v) robôs usados para educação em todo o mundo. Os dados são fornecidos pela Federação Internacional de Robótica.

“Em meio a incertezas e a uma situação global fluida, parece que empresas e sociedades que evoluem rapidamente se correlacionam fortemente com o ranking”, comenta o professor Arturo Bris, diretor do Núcleo de Competitividade Global do IMD. E completa, “O conhecimento também é um fator de extrema importância para o desempenho digital de diferentes economias”.

Em três anos de divulgação do relatório, o Brasil sempre se manteve entre as economias com as piores avaliações. Da 55ª posição em 2017, caiu para o 57º lugar em 2018, onde permaneceu em 2019. O País figura apenas na 61ª posição do subfator “talentos”, que avalia a qualidade de mão de obra de uma nação; este quesito é composto por indicadores como “habilidades tecnológicas e digitais” (62ª posição); “qualidade da gestão das cidades” (60º); e “experiência internacional dos gestores públicos e privados” (58º lugar).

Uma característica dos estudos de competitividade é a combinação de dados de opinião obtidos anualmente junto a representantes da comunidade empresarial e dados estatísticos que são coletados junto a países e organizações internacionais. “Quando comparamos os resultados de 2019 com aqueles obtidos em 2018, observamos que, apesar de iniciarmos o ano com um novo governo e com expectativas positivas em relação ao crescimento econômico, a opinião dos entrevistados se manteve praticamente estável”, comenta Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral. “A pesquisa traz uma perda de confiança no país, em sua capacidade para financiar e apoiar a inovação e adoção de tecnologias digitais”, comenta.

Outro fator relevante avaliado é o de “tecnologia”, que analisa a competência do desenvolvimento de inovações digitais, no qual o Brasil figura na 57ª posição. “A capacidade de uma economia de promover inovação digital é avaliada a partir de indicadores que levam em consideração o seu marco regulatório, a disponibilidade de capital e sua estrutura tecnológica. Com este resultado, o país mantém uma trajetória de perda competitiva que pode ser percebida desde a primeira divulgação do ranking, quando figuramos em 54º”, diz Carlos Arruda.

Thiago Camargo, CEO do Movimento Brasil Digital – organização que reúne grandes empresas em prol da digitalização -, aponta que a iniciativa privada tem atuado para suprimir a questão da escassez de mão de obra qualificada. A exemplo disso está o portal Brasil Mais Digital. “Hoje oferecemos gratuitamente capacitação em habilidades digitais para aproximadamente 400 mil pessoas. São mais de 50 cursos que visam preparar a sociedade para as profissões do futuro de forma humanizada, gerando ocupações qualificadas”, conta. O relatório de competitividade digital é apoiado pelo Movimento, em uma de suas iniciativas de Inteligência de dados/mercado, com o objetivo de levar informação para apoiar o governo na construção de políticas públicas e estimular a competitividade brasileira.

O último fator avaliado pelo ranking refere-se à capacidade do país em aproveitar o futuro. Ele busca compreender se um país está preparado para o desenvolvimento tecnológico. Neste quesito, as notícias são positivas: o país ganhou quatro posições e agora se encontra em 43º colocado. “Trata-se do nosso melhor resultado desde a criação do relatório. Ele leva em consideração subfatores importantes, como ‘atitudes adaptativas’, ‘agilidade dos negócios’ e ‘integração das tecnologias de informação'”, destaca o professor.

Para Thiago Camargo, do MBD, a iniciativa privada está disposta a melhorar a competitividade digital do país, mas ainda é preciso que o governo atue mais fortemente nesta agenda. “O Brasil avança em agilidade dos negócios, adaptação e integração. Somos disparados o país que mais investe em software em toda a América Latina e um dos 10 países que mais investe em TI no mundo. Mas o esforço privado precisa ser acompanhado de políticas públicas mais favoráveis para formação de mão de obra e de um ambiente regulatório tributário”, afirma.

Resultado global

Na América Latina, México e Colômbia foram os únicos países que avançaram no ranking deste ano. A falta de recursos para apoiar os novos talentos e o desenvolvimento tecnológico impediram que a maioria dos latino-americanos registrasse melhoras em relação aos indicadores de geração de conhecimento e aproveitasse ao máximo as transformações digitais.

Os Estados Unidos mantiveram a primeira posição no ranking, seguidos das outras quatro economias mundiais que também não sofreram alterações em relação a 2018, Cingapura, Suécia, Dinamarca e Suíça.

Os cinco primeiros colocados compartilham uma linha comum em termos de foco na geração de conhecimento, mas cada um deles aborda a competitividade digital de maneira diferente. Os Estados Unidos e a Suécia seguem uma abordagem equilibrada entre geração de conhecimento, criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento de tecnologia e disposição na adoção de inovação. Cingapura, Dinamarca e Suíça priorizam apenas um ou dois fatores.

Entre os dez primeiros se destacam a Holanda, a região administrativa de Hong Kong e a Coréia do Sul, que subiram para 6º, 8º e 10º lugar, respectivamente, enquanto a Noruega caiu para 9º e o Canadá caiu para a 11ª posição.

Várias economias asiáticas avançaram significativamente no ranking em relação a 2018. A região administrativa de Hong Kong e a Coréia do Sul entraram no Top 10, enquanto Taiwan e China subiram para o 13º e 22º lugares, respectivamente. Todos esses países tiveram um progresso marcante em sua infraestrutura tecnológica e na agilidade de seus negócios. Mais abaixo no ranking, Índia, que subiu quatro posições, e Indonésia, seis posições, apoiaram-se em resultados positivos em Talento, Treinamento e Educação, além do aprimoramento da infraestrutura tecnológica.

No Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos e Israel permaneceram como os principais centros digitais regionais, mas seguiram tendências opostas em relação a 2018. Os Emirados Árabes Unidos subiram cinco posições graças a melhorias na disponibilidade de capital e na regulamentação favorável ao desenvolvimento de tecnologia. Israel caiu quatro posições, devido a um declínio na agilidade dos negócios e processos on-line praticados pelo governo.

**Detalhamento completo do ranking do Núcleo Global de Competitividade Digital, bem como um perfil individual dos 63 países analisados, estão disponíveis aqui.

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