Por Luiz Felipe Vieira de Siqueira*
Avanço da tecnologia e da era digital colocou a proteção de dados e a privacidade como temas estratégicos e inegociáveis para empresas de software
O avanço da tecnologia e da era digital colocou a proteção de dados e a privacidade como temas estratégicos e inegociáveis para empresas de software. Neste contexto, a microeconomia fornece um arcabouço analítico valioso para entender e gerenciar os desafios e oportunidades relacionados a este tema. A incorporação de teorias microeconômicas, como custos de transação e assimetria informacional, pode ajudar as empresas a inovar, preservar a confiança do consumidor e alinhar práticas de mercado com os requisitos regulatórios.
A Economia Digital e a Importância dos Dados Pessoais
Os dados pessoais, na economia moderna, são um insumo estratégico para empresas de software, viabilizando desde a personalização de serviços até o desenvolvimento de produtos inovadores. No entanto, a abundância de dados gera desafios ligados à assimetria informacional — situação em que uma das partes detém mais informações do que a outra. Isso cria um ambiente propício a práticas predatórias e reduz a eficiência de mercado.
Kenneth Arrow, ao abordar a questão da assimetria informacional, destacou como ela pode levar a falhas de mercado e custos elevados de transação. No setor de software, esses custos incluem a obtenção de dados de qualidade, negociação de licenças de uso de tecnologia e monitoramento do cumprimento de regulamentações, como a LGPD. Empresas que minimizam esses custos, ao promover maior transparência e equidade, conseguem não apenas obter vantagem competitiva, mas também fortalecer a confiança dos consumidores.
Inovação e incerteza: uma relação microeconômica
A inovação é intrinsecamente conectada à incerteza — um conceito central na microeconomia. Segundo Schumpeter, as empresas que inovam lidam com mercados imprevisíveis, novas demandas e retorno financeiro incerto. Para o setor de software, este cenário reflete os desafios de criar tecnologias que simultaneamente protejam dados e atendam às exigências de um mercado cada vez mais regulado.
Além disso, a incerteza regulatória, como a falta de regulamentação da IA no Brasil, também afeta as empresas que devem se adaptar constantemente às diretrizes de privacidade. Neste aspecto, estratégias como diversificação de portfólio e integração vertical podem ajudar a mitigar riscos. Empresas que investem em Pesquisa e Desenvolvimento com foco em soluções de segurança de dados enfrentam grandes desafios, mas também podem colher benefícios estratégicos significativos ao liderar em conformidade e inovação.
Regulação, custos de transação e confiança no mercado
O custo de transação, como enfatizado por Ronald Coase, é um aspecto crítico para as empresas na era digital. No contexto da LGPD, por exemplo, esses custos incluem a adaptação a novas regulamentações, o estabelecimento de sistemas de governança de dados e a execução de medidas de segurança. Para empresas de software, a implementação de sistemas de proteção de dados é mais que uma obrigação legal — é uma forma de melhorar a eficiência do mercado e criar valor econômico.
A microeconomia também aponta que, em um mercado caracterizado por informação assimétrica, empresas podem construir confiança ao reduzir essa assimetria. Campanhas de educação sobre privacidade e transparência nas práticas de coleta e tratamento de dados pessoais podem funcionar como diferencial competitivo. Além disso, a proatividade em conformidade não apenas protege empresas de penalidades financeiras, mas também contribui para a fidelização de clientes.
A necessidade de governança e educação
Em economias onde a conscientização sobre proteção de dados ainda é limitada, como no Brasil, as empresas têm a responsabilidade de liderar pelo exemplo. Investir em inovação tecnológica que incorpore proteção de dados desde o design não apenas mitiga riscos de compliance, mas também amplia a aceitação do mercado por produtos éticos e seguros.
A microeconomia revela que, quanto mais as empresas educarem seus consumidores e adotarem práticas claras e éticas, menor será o custo de transação e maior será a eficácia do mercado. A governança eficaz de dados, portanto, deve ser vista como um pilar estratégico para qualquer empresa de software que deseja prosperar em um mundo digital crescente e regulamentado.
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*Advogado, pesquisador do Think Tank ABES, Doutorando em Inovação & Tecnologia – PPGIT UFMG e sócio da Privacy Point. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação.