
Fonte: IT Forum
Por Lauro de Lauro*
ISVs precisam se reinventar com IA Vertical ou correm o risco de serem engolidos por soluções nativas, ágeis e mais especializadas

Ascensão da IA Vertical
A paisagem do software empresarial está passando por uma profunda transformação impulsionada pela Inteligência Artificial Vertical (IA Vertical). Diferente do software horizontal, que oferece funcionalidades amplas para diversas necessidades de um negócio, a IA Vertical se especializa em mercados e fluxos de trabalho específicos, utilizando a IA para automatizar tarefas que antes exigiam intensa intervenção humana.
Esta evolução pode ser descrita em três ondas:
- Primeira onda: Serviços online básicos, como agendamentos.
- Segunda onda: Serviços financeiros, focados no aumento de receita.
- Terceira onda: A mais impactante, impulsionada pela IA, expandindo a atuação do software e transformando “Mão de Obra em Software”. O software deixa de ser uma simples ferramenta de suporte para se tornar um substituto direto ou um aprimoramento da força de trabalho humana.
A IA Vertical redefine os limites do que é possível em termos de valor e alcance de mercado. Ao aprofundar-se em nichos específicos e automatizar tarefas complexas, ela revoluciona a economia de serviços, desbloqueando mercados que antes eram considerados pequenos demais ou com ROI insuficiente. A previsão é que a capitalização de mercado da IA Vertical cresça exponencialmente, pois a sua capacidade de converter despesas com mão de obra em valor de software amplia o mercado endereçável.
Desafios e oportunidades para ISVs
A ascensão da IA Vertical está superando barreiras históricas, tornando grandes empresas mais receptivas à tecnologia, impulsionadas pela preocupação de que a concorrência as ultrapasse ao adotar essas ferramentas primeiro. A proposta de valor radical da IA Vertical altera o cálculo do ROI, tornando o custo de não adotar essas ferramentas significativamente maior do que o custo de adotá-las. Essa dinâmica cria uma busca ativa por ferramentas habilitadas para IA para manter ou obter vantagem competitiva, o que pressiona os Independent Software Vendors (ISVs) a demonstrarem um valor verdadeiramente transformador, com economia de mão de obra. Caso contrário, correm o risco de serem superados por startups ágeis e nativas de IA.
Os mercados mais atraentes para a construção de empresas de IA Vertical são aqueles onde a IA facilita ou completa trabalhos que antes eram impossíveis ou excessivamente caros para serem realizados apenas com mão de obra humana. A IA Vertical vai além da eficiência, criando novas capacidades ao possibilitar trabalhos que antes eram inviáveis devido à escala, complexidade ou custo. A capacidade da IA de assumir tarefas complexas possibilita uma redução drástica dos gastos dos clientes com mão de obra. Ao capturar essas economias, os ISVs podem aumentar sua receita por cliente (ACV) em 2 a 10 vezes.
À medida que as soluções de IA Vertical amadurecem, elas podem absorver ou deslocar funcionalidades de ferramentas horizontais, forçando os ISVs a uma difícil escolha estratégica: se especializar ou se reposicionar como provedores de infraestrutura. O mercado de IA Vertical está crescendo exponencialmente, com startups nativas de LLM (Large Language Model) alcançando um crescimento de aproximadamente 400% ano a ano. Aquisições significativas por empresas estabelecidas, como a Thomson Reuters e a DocuSign, sinalizam um mercado em rápida maturação e exercem pressão sobre os incumbentes para inovar ou adquirir.
Embora a análise inicial sugira que startups de IA Vertical frequentemente complementam os ISVs, a proposta de valor central da IA Vertical reside em resolver as dores mais críticas e de maior valor que o software tradicional não conseguia abordar. Isso pode levar a uma “erosão silenciosa” da relevância estratégica do software legado, que corre o risco de ser relegado a um mero sistema de registro ou a um componente menos estratégico. Os orçamentos e o foco estratégico dos clientes naturalmente se deslocarão para as soluções impulsionadas por IA que entregam economias tangíveis de mão de obra, eficiência operacional e ampliação de capacidades que antes não existiam. Portanto, os ISVs tradicionais devem integrar proativamente a IA em suas ofertas principais para evitar se tornarem um backend comoditizado.
Estratégias de resposta para ISVs
Para garantir a relevância, os ISVs precisam de estratégias proativas:
- Aprofundamento da especialização vertical: ISVs devem ir além das soluções genéricas, focando em nichos e fluxos de trabalho específicos que a IA pode transformar.
- Integração de IA em ofertas existentes: A IA deve ser integrada de forma fundamental, aprimorando produtos para assumir tarefas complexas e caras, gerando economias de mão de obra e aumentando o Valor Contratual Anual (ACV -Annual Contract Value).
- Parcerias estratégicas e aquisições: ISVs devem considerar parcerias ou adquirir startups de IA Vertical para acelerar a inovação e obter acesso a tecnologias e talentos especializados.
- Reavaliação de modelos de negócios: É necessário adotar modelos de receita baseados no valor entregue, onde o preço é justificado pela economia de custos operacionais gerada para o cliente, em vez de licenças de usuário.
A IA Vertical não é apenas uma nova categoria de software, mas uma força disruptiva que redefine o valor e expande os Mercados Endereçáveis Totais (TAMs). A inação não é mais uma opção, e a agilidade na inovação é crucial para a sobrevivência. O futuro do software é verticalizado e impulsionado pela IA, onde o valor principal é derivado da capacidade de automatizar tarefas humanas complexas e caras.
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*Diretor de Marketing da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES).





