A Associação Paulista de Medicina promoveu um painel com o tema “Telemedicina: nossos médicos estão preparados?” no dia 23/05, durante a tradicional Feira Hospitalar, que reúne as principais empresas, profissionais e lideranças da Saúde.

“A Telemedicina é uma possibilidade de saúde feita a distância, através das tecnologias de informação e comunicação, envolvendo os aspectos de prevenção, promoção, diagnóstico e tratamento de pacientes. Evidenciamos hoje que essa ferramenta aumenta o acesso ao serviço de saúde, traz maior resolubilidade e pode ser feita com segurança e qualidade na prática médica”, definiu o neurologista Jefferson Gomes Fernandes, presidente Científico e do Conselho de Curadores do Global Summit, na abertura do painel.

Ao abordar o desenvolvimento nas últimas duas décadas das tecnologias e suas aplicações na prática médica, Fernandes ressaltou a importância de os médicos estarem atentos a essas diversas ferramentas assistenciais, como saúde digital móvel, telemedicina, telessaúde, e-health, m-health, saúde virtual e saúde conectada. “Já sabemos que o profissional não precisa ser híbrido (entender de informática além da prática médica), pelo contrário, tem de ser um sujeito hiperconectado.”

Nessa perspectiva, Chao Lung Wen, chefe da Disciplina de Telemedicina da FMUSP, apresentou uma linha evolutiva da Telemedicina no Brasil. De 1998 a 2005, os testes da área eram segmentados; de 2005 a 2008, é considerada como uma fase universitária pública; e de 2008 a 2015, a perspectiva torna-se pública, à medida que o Governo lança um programa em apoio à atenção primária.

“Em 2015, iniciou-se a singularidade privada e de empreendedorismo sustentável da Telemedicina, além dos processos de regulamentação. Vou dizer ainda que de 2020 a 2030, entraremos para o processo da biosfera e do ecossistema, com o aumento da eficiência em todos os grupos: idosos, pessoas com deficiência, entre outros”, informa Wen, que também é membro do Conselho de Curadores e participante do Global Summit Telemedicine & Digital Health.

Economia e prática no mercado

Do ponto de vista global, a Telemedicina pode gerar uma economia em torno 50 bilhões de dólares até 2020, em equipamentos e serviços médicos. “Uma pesquisa recente aponta que o número de hospitais que têm ou pretendem possuir serviços de saúde digital chega a 56%, e os recursos financeiros que podem decorrer desse tipo de serviço podem atingir 2 bilhões de dólares por ano, só nos Estados Unidos”, informa Fernandes.

No Brasil, segundo dados demográficos, há um envelhecimento da população, possibilitando o surgimento de doenças crônicas. Por outro lado, a inflação em saúde é acentuada. “Por isso, precisamos de mecanismos para que os custos se reduzam, promovendo mais acesso e resolubilidade para as questões assistências seja para o sistema público ou privado. E isso será efetivado com o uso da Telemedicina”, reforça o neurologista.

Em uma abordagem mais prática, o gerente médico de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, Eduardo Cordioli, apresentou um projeto piloto aplicado em Unidade de Pronto Atendimento virtual da instituição, iniciado no final de 2016, com sala de teleconferência e plataforma de acesso gratuito. “Nessa primeira experiência, atendemos 40 casos. Tivemos 90% resolvidos por Telemedicina, segundo os dados auditados. E praticamente 100% concordaram em indicar o serviço”, disse.

Na fase dois, houve uma ampliação do atendimento para outras unidades do Albert Einstein. E na terceira etapa, o hospital adotou a multiplataforma na qual os pacientes podem ter acesso à Telemedicina por qualquer canal virtual. “Assim, de junho de 2017 a este ano, atendemos 718 pacientes, sendo 78% mulheres e 22% homens, com idade mediana de 32 anos. Tivemos 90% dos casos resolvido e 93% das pessoas avaliaram o atendimento como excelente ou muito bom”, acrescentou.

Ele avalia que o projeto possibilitou ainda uma assistência mais sustentável e econômica: “Porque a Telemedicina deixa o paciente mais próximo do médico e satisfeito, sem a necessidade de se deslocar fisicamente”, resume.

Educação médica

“A Telemedicina deveria ser ensinada em todos os cursos médicos, porém, praticamente não consta no currículo de nenhum curso. Dados os números atuais de 312 faculdades de Medicina, oferecendo 31.395 vagas, temos uma missão desafiante”, alertou o professor emérito da FMUSP, Gyorgy Miklós Bohn.

Nessa linha, três perspectivas foram abordadas para conduzir o processo educacional dos estudantes de Medicina: “Primeiro, a linguagem do corpo e as impressões da voz são reveladoras e as técnicas para abordagem precisam ser ensinadas. Segundo, quando se trata de atendimentos remotos, aparecem as barreiras culturais e de linguagens que precisam ser superadas; é importante preparar os estudantes para lidar com a diversidade. Por último, hoje as pessoas chegam muito mais informadas nos consultórios, e os médicos devem ser habilidosos para conduzir o diálogo e guiar sites de consultas”, finaliza.

Compartilhe