Fonte: Abag
Material traz visão do setor, elucidando principais gargalos e oportunidades de inovação no Agro
O Comitê de Inovação e Tecnologia da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) apresentou no dia 16, os resultados de uma pesquisa junto de seus associados e demais partes da sociedade, sobre o tema Inovação e Competitividade do Agronegócio. Os dados foram coletados entre agosto e setembro, compilados e divulgados agora pela entidade, como uma espécie de direcionador estratégico para a inovação do Agro, apontando um panorama de gargalos e preocupações do setor.
Segundo o presidente do Comitê, João Comério, que também preside o Grupo Innovatech, é preciso intensificar o sucesso competitivo e sustentável da agricultura, alcançado nas últimas décadas, para que o país permaneça aproveitando suas vantagens comparativas e consiga assumir o papel de líder mundial no fornecimento de alimentos, fibras e energia. “O Brasil tem uma grande força competitiva, o que é um diferencial para irmos muito além do setor de commodities, como a pluralidade, a diversidade e a heterogeneidade cultural, socioeconômica e ambiental. Temos potencial para produzir alimentos únicos, mais nutritivos e alinhados com as demandas dos mercados mais exigentes. As análises às quais o grupo de trabalho chegou contribuem de forma significante para a tomada de decisões estratégicas das entidades públicas, privadas e de economia mista e dos diversos agentes e atores de todos os elos das cadeias produtivas do agronegócio, com vistas ao contínuo desenvolvimento sustentável do Brasil”, define.
Para chegar aos resultados, a pesquisa, que envolveu todo o Comitê de Inovação da Abag e convidados ligados ao setor, avaliou o nível de inovação e de competitividade do agronegócio brasileiro em dois níveis: a avaliação local, considerando 35 fatores que influenciam a competitividade de agronegócio e a avaliação global, com a importância dos fatores: Tecnologias 4.0, Organizacional, Humano e Ambiental. Cerca de 1/3 das respostas foram de associados da Abag, enquanto outros 2/3, setores da sociedade, como Hub de inovação (aceleradoras, incubadoras, parques tecnológicos, startups, governo e outros) e representantes do mercado, entidades do setor e academia.
Gargalos
O setor de infraestrutura foi apontado em 80% das respostas como principal gargalo para o agro brasileiro, seguido do fator humano em governança e gestão, quando observada somente a própria organização.
Dentro da tecnologia 4.0 alguns subfatores foram apontados como complicadores, além da infraestrutura de comunicação, como a integração de sistemas, uma vez que este fator representa o acoplamento de todos os demais subfatores das tecnologias 4.0.
Quando se fala no aspecto inovação e nos incentivos governamentais para o agro brasileiro fica nítido que: para os incentivos educacionais, a atuação do Executivo e Legislativo brasileiros deixa a desejar, sendo considerada fraca e levemente fraca para mais de 65% dos entrevistados. Quando colocada a atuação dos agentes públicos na formação de políticas públicas para inovação e competitividade, os incentivos governamentais e incentivos de transferência de tecnologia, a pesquisa também demonstra uma deterioração da percepção, com predominância da percepção fraca e levemente fraca em oposição à percepção forte, extremamente forte.
“Os resultados obtidos nos permitem confirmar que educação e incentivos educacionais são um dos fatores determinantes para a inovação e competitividade no agronegócio brasileiro, independentemente da esfera pública avaliada”, explica João Comério.
Visão
A pesquisa ainda traz importantes dados sobre a importância da tecnologia no mundo agro. Entre a importância dos subfatores das tecnologias 4.0, destaca-se como extremamente forte (75% dos entrevistados) a integração de sistemas. Ainda neste item, foram destacados como importantes a computação em nuvem, Ciber segurança e big data & analytics. A reconhecida deficiência em infraestrutura de comunicação de dados do país dá um norte dos desafios e oportunidades de negócios no agronegócio.
Já sobre a questão organizacional, o trabalho do Comitê de Inovação da Abag mostra dados extremamente positivos: mais de 60% dos entrevistados veem como extremamente importante o perfil inovador, de pesquisa e desenvolvimento (P&D). E acima de 50% têm como percepção de importância extrema criação de valor, capacidade tecnológica, cultura organizacional e qualidade da organização. “Ou seja, a maioria percebe claramente a importância organizacional das empresas para que o Brasil atinja realmente o papel de protagonista que lhe é cabível no agro”, explica o presidente do Comitê.
Dentre os fatores humanos, o comprometimento dos funcionários destaca-se como fator extremamente forte (acima de 60%), seguido por satisfação e nível de escolaridade dos funcionários (acima de 50%). “Quanto aos fatores de importância relacionados ao ambiente de negócios propriamente ditos, a formação de alianças, ambiente econômico e tecnológico e ambiente competitivo são destaques com mais de 60% de percepção dos entrevistados”, discrimina João Comério.
A avaliação global mostra que o fator humano (70%), as tecnologias 4.0 (63%), os fatores organizacionais (54%) e ambientais (49%) são os que mais contribuem para a inovação e competitividade da empresa. Já com relação à inserção do agronegócio nacional nas cadeias globais de valor, os seguintes fatores se destacaram com percepção extremamente forte: promoção comercial internacional do agronegócio (73%), pesquisa agropecuária (68%) e sinergia entre agentes públicos e privados (58%).
A pesquisa aponta ainda que no relacionamento entre empresas consolidadas com startups, os fatores que mais podem contribuir são o aumento da competitividade do agronegócio propriamente dito, por meio de programa piloto ou prova de conceito, seguido de parceria comercial.
Direção
A pesquisa e sua posterior análise por parte do comitê e de convidados apontam uma série de direções para a melhoria do agro e possíveis inovações, dentro dos quesitos políticas públicas, infraestrutura, fator humano, financiamento e fomento à inovação e propriedades intelectuais e patentes.
“No quesito inovação e competitividade do agronegócio, deveria haver mais ação dos poderes Executivo e Legislativo por meio de incentivos governamentais, transferência tecnológica e principalmente educacionais, dado que mão de obra qualificada é base das novas tecnologias 4.0, governança e gestão eficientes. Ações governamentais coordenadas com associações representativas do agronegócio de modo a inserir de maneira mais contundente a promoção comercial internacional do agronegócio e sua sustentabilidade são essenciais, por exemplo”, revela João Comério.
Dentro do fator humano, aliado às novas tecnologias digitais que surgem, é iminente a criação de políticas de incentivos educacionais específicas para abarcar e permitir a inovação por meio de novas tecnologias, governança e gestão eficientes dos processos produtivos e de inteligência competitiva.
Outro fator destacado por Comério é a necessidade de investimentos em infraestrutura em parcerias público-privadas em modais de transportes e portos, “Além disso, é necessária a expansão de cobertura, velocidade e estabilidade na comunicação de dados, de forma a permitir a adoção de tecnologias 4.0, que são fundamentais à produtividade e também competitividade, dado mudança no perfil dos mercados consumidores, cada vez mais ávidos por informações da cadeia produtiva e respectiva sustentabilidade dos produtos”, ressalta o presidente do comitê.
Para os especialistas as linhas de financiamento no âmbito do plano safra, em especial no Inovagro, para uso na aquisição de bens e serviços destinados à modernização das lavouras, bem como da chamada agricultura de precisão e digital sejam mais difundidos e usados pelos produtores rurais, bem como dos responsáveis nas instituições financeiras.
Outro assunto destacado como essencial, trata-se da questão de propriedade intelectual e patentes. “Assunto de enorme relevância para assegurar o aumento da competitividade e produtividade do agronegócio brasileiro e está diretamente atrelado à capacidade de investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias”, destaca.
No setor de sementes, a propriedade intelectual pode ser encontrada tanto no germoplasma (genética vegetal), seguindo diretrizes internacionais da União Internacional de Obtentores Vegetais (UPOV) quanto nas patentes das biotecnologias (transgenias) incluídas em diversas espécies vegetais, que conferem tolerância às principais pragas, a herbicidas e, mais recentemente, tolerância ao estresse hídrico).
Ou seja, há uma grande caminhada pela frente, de acordo com o levantamento feito pelo Comitê de Inovação da Abag, contudo, os trajetos são definidos e possíveis a toda cadeia do agro nacional para que ele se fortaleça e garanta o lugar de protagonista no mundo.