Por Vincent Bonnet*

Algumas semanas atrás, milhares de pessoas postaram nas redes sociais fotos mostrando como elas mudaram de 2009 para 2019. Já parou para pensar em como ficariam as fotos se retratássemos a transformação do setor de educação em uma ou duas décadas?

Como muitas outras áreas, a educação está passando por uma transformação digital que afeta não somente as ferramentas e os processos, mas também os comportamentos dos educadores e dos alunos. Nós não estamos mais aprendendo e ensinando como antes.

Em 2018, tive a oportunidade de conhecer muitas startups do setor chamado de EdTech, ou seja, que atuam no ramo da educação e da tecnologia. 20 anos após ter ingressado na aventura do empreendedorismo e 10 anos especificamente no setor educacional no Brasil, pude perceber como as coisas mudaram.

Para se ter uma ideia da expansão do setor, basta acessar o Global Edtech Landscape 3.0, um mapeamento realizado pela Navitas que analisou e classificou aproximadamente 2000 startups. Duas brasileiras constam nesse levantamento na categoria “test prep”, ou seja, de preparação para testes: a Geekie, com soluções gamificadas de personalização do ensino e de avaliação; e a Descomplica, uma startup cujas soluções de preparação para o Enem por videoaulas bateram recordes em 2018, recebendo R$54 milhões em uma única rodada de investimento.

Essas duas empresas são parte de um cenário que não para de crescer. Em 2018, a Associação Brasileira de Startups mapeou 364 EdTechs no Brasil. Suas receitas crescem, em média, 20% ao ano. Apesar desse dinamismo que atrai até investidores estrangeiros, o Brasil ainda não tem uma EdTech no clube dos unicórnios, startups cuja avaliação de mercado supera um bilhão de dólares – das 250 existentes no mundo, apenas 9 são EdTechs.

Ao longo do ano passado, identifiquei tendências para o setor no Brasil que incluem soluções para personalização do ensino, gamificação, preparação para exames, agenda e comunicação escolar, gestão escolar e gestão de avaliação. Porém, essas tendências não são exatamente novas, e algumas delas já estão em fase de consolidação. O que realmente impressionou foi a quantidade de empresas e soluções em áreas como robótica, cultura maker, realidade virtual, realidade aumentada e inteligência artificial. Pude conhecer algumas iniciativas muito promissoras para desenvolvimento de habilidades do século XXI para adultos (Veduca), microcursos técnicos (EduK) e formação de professores (Kanttum).

A outra grande tendência foi o aparecimento de ecossistemas colaborativos de inovação que juntam várias startups num mesmo ambiente. Mais que coworkings, trata-se de ambientes onde as pequenas empresas são apoiadas por grandes grupos brasileiros, que podem se beneficiar da identificação de investimentos lucrativos, mas também de desenvolvimento de soluções adequadas para compor seu próprio portfólio. Além do Inovabra do grupo Bradesco, a grande novidade do ano ficou por conta do Cubo, do Itaú, que inaugurou sua nova sede com um andar inteiro dedicado a empresas de educação.

Em um cenário em que novidades surgem a toda velocidade, não é fácil prever quais serão as novas tendências em EdTech que surgirão ao longo de 2019. Mas o que está claro é que não estamos mais falando do futuro da educação quando discutimos processos e ambientes de aprendizagem altamente tecnológicos e digitais – estamos falando do presente. Que as startups ajudem a nossa educação a completar a transição para o século XXI. Quem sabe, durante esse processo, o Brasil não emplaque uma EdTech no clube dos unicórnios.

* Vincent Bonnet, gerente de Inovação da Pearson no Brasil

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