Fonte: ABDI – Agência para o Desenvolvimento da Indústria no Brasil
Volume de conteúdos gerados abre novas possibilidades de negócios, alimenta tecnologias disruptivas e cria questionamentos sobre uso, propriedade e segurança das informações
A cada minuto 100 milhões de e-mails são enviados, o Youtube faz o upload de 72 horas de vídeos, 277 mil tuítes são postados, o Google processa dois milhões de buscas e o Facebook faz atualização de status de 695 mil perfis. Tudo isso somado resulta em mais de 1,82 terabytes de dados gerados. Que computador tem capacidade para armazenar esse volume de informações?
O alemão Frank Karlitschek, fundador e CEO da empresa Nextcloud, mostrou em recente visita ao Brasil que a “nuvem” de dados está concentrada quase toda em um lugar: no Vale do Silício, Califórnia. Em outras palavras, os conteúdos criados e trafegados pela internet passam pelos processadores de algumas empresas situadas nos Estados Unidos. E até 2020 esse fluxo será dez vezes maior.
“A ideia do Big Data é que, hoje em dia, você tem esse enorme volume de dados, esses ‘silos’ de Big Data, que não são só de um negócio, de um serviço, ou de uma empresa, mas são a união de muitos deles. Se você olhar para o que a Amazon faz é ter os dados de todo tipo de diferentes serviços, companhias e países juntos”, exemplifica Karlitschek.
A possibilidade de traçar perfis de consumo, hábitos de vida e tendências comportamentais com precisão abre diversas oportunidades para os negócios. A McKinsey & Company estima que quando os comerciantes apostam em informações oferecidas pelo Big Data, o aumento da margem operacional é de 60%.
“O Big Data está fazendo com que as coisas deixem de ser somente intuitivas. Algumas questões eram só intuitivas e decisões grandes de negócio eram tomadas a partir disso. Quando eu venho com uma estrutura de dados, eu consigo direcionar com mais precisão esta decisão. Isso muda o rumo, faz com que as pessoas revejam suas estratégias e causa uma série de desdobramentos. Eu mostro que aquilo que se achava certo não funciona mais e aqui está o dado para comprovar isso”, afirma Luiz Telles, da agência publicitária Artplan.
A análise qualificada dos dados oferecidos pelo Big Data auxilia para que as decisões sejam mais assertivas. Segundo Telles, isso é importante para identificar os anseios, no caso do mercado de publicidade, dos consumidores, e ter uma atuação certeira. A tensão está entre a realidade e a vontade do consumidor, ou seja, entre aquilo que ele quer e aquilo que ele tem condições de ter.
“Eu tenho que ter um entendimento profundo de quem é essa pessoa. Qual a tensão que ela tem e o que está disponível para ela. Tenho que trabalhar em identificar qual é esta tensão do ponto de vista dos dados. Esta tensão pode se manifestar em desejos, em conversas de diversas formas. A partir disso, eu trago esta recomendação para um planejamento estratégico de comunicação”, aponta.
O monitoramento das estratégias adotadas é parte do trabalho de construção de produtos e serviços para os clientes. E os dados seguem sendo parte importante deste trabalho. “Eu tenho uma equipe de conteúdo que acha que está fazendo muita coisa legal e quando você vê o dado percebe que não é bem aquilo. Isso vai requisitar uma mudança de estratégia, ou do ponto de vista da produção, ou da criação de conteúdo”, completa Telles.
Máquinas do futuro
Os carros do futuro serão autônomos. Esta é uma direção que as montadoras já seguem. Para que a máquina dirija o carro de forma segura é necessário o treinamento da rede neural dela, o algoritmo para o automóvel ser guiado, reconhecer as placas e as ruas, o que envolve o uso dos dados de direção de milhões de pessoas.
“Você necessita da informação, dos dados de todas as câmeras, sensores de milhões de carros. E você não consegue comprar isso. Se você for na Tesla e disser: ‘Ei, dê-me seus dados’, eles vão dizer: ‘Não’. Eu nem sei se eles têm tantos dados, mas se tivessem eles não os dariam para você. Então, temos um problema para a competição, e é só um exemplo. Temos esse tipo de problema com dados em várias indústrias”, analisa Karlitschek, que questiona a centralização do Big Data em algumas empresas.
A descentralização dos dados e o controle individual das próprias informações são algumas medidas para evitar a submissão aos interesses de grandes corporações ou de governos. “Pessoas como eu e você podem ter o controle de uma foto, mensagens em chats, arquivos, dados de localização, todo tipo de coisa. Não há necessidade de dar isso a uma autoridade central, ou a um Facebook ou um Google, podemos manter isso conosco e ainda continuar tendo todos os benefícios e serviços legais”, destaca o CEO da Nextcloud.
A mesma lógica serve para grupos, empresas e governos que também deveriam ter controle dos próprios dados. O Estado tem as informações dos cidadãos, como impostos pagos, números de documentos, registros e transações de bens etc. Da mesma forma, as companhias têm pesquisas, dados financeiros internos, ou dos consumidores.
“O Big Data é considerado o novo petróleo, devido à sua importância como insumo. É uma tecnologia transversal que tem impactado setores como manufatura, saúde, agricultura e logística. Por esse motivo, a ABDI vem acompanhando o desenvolvimento da tecnologia e principalmente sua aplicação, seus custos e benefícios”, avalia o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Guto Ferreira.
E como o cidadão se protege? O próprio Frank teve que colocar a digital para entrar na Campus Party, em São Paulo. “É verdade, eles pegaram minha digital e eu simplesmente entreguei. Eu simplesmente coloquei, e meia hora depois eu fiquei pensando: ‘nossa, o que eu acabei de fazer?’ Porque, sei lá, e se amanhã a polícia chegar em mim e disser: ‘temos um caso de assassinato e minhas digitais estão fraudadas lá’”, reflete Karlitschek. “Eu poderia ter dito não, mas eu tinha que vir dar a palestra”.
Situações nem tão hipotéticas, o vazamento de dados de governos e de usuários de redes sociais chamaram a atenção para a importância da segurança das informações e o quanto elas são valiosas.