Selo IA

Por Lizziere Mantuano*

A inteligência artificial está deixando de ser apenas uma ferramenta de apoio e assumindo papéis estratégicos dentro das organizações. Hoje, agentes autônomos de IA já tomam decisões em tempo real, influenciando desde a produção industrial até o relacionamento com o cliente e o impacto disso vai muito além da eficiência operacional.

De acordo com uma pesquisa da Gartner, realizada em janeiro de 2025 com 3.412 participantes de webinars, 19% das organizações já fizeram investimentos significativos em agentes de IA, enquanto 42% adotaram abordagens mais conservadoras. Outros 8% ainda não investiram, e 31% permanecem em modo de espera, o que demonstra um sinal claro de que o mercado ainda amadurece sua compreensão sobre o potencial e os riscos dessa tecnologia.

No Brasil, o movimento também ganha força. Segundo a Pesquisa de Inovação Semestral (Pintec) divulgada neste ano, o número de empresas industriais que utilizam IA mais do que dobrou em dois anos, passando de 1.619 em 2022 para 4.261 em 2024, um salto de 163%.

No setor de serviços, o avanço segue no mesmo ritmo. A Salesforce, em seu relatório State of Service 2025, mostra que a expectativa é que a IA resolva 50% de todos os atendimentos ao cliente até 2027, frente aos 30% atuais, ou seja, uma transformação que redefine o conceito de experiência do consumidor.

Da automação à inteligência organizacional

Durante anos, a IA foi sinônimo de automatizar tarefas repetitivas. Agora, ela evolui para um patamar de autonomia adaptativa, capaz de aprender com padrões, decidir com base em dados e agir de forma independente, dentro de limites definidos pela empresa.

Em uma linha de produção, por exemplo, agentes de IA podem ajustar parâmetros de máquinas em tempo real, antecipando falhas e evitando desperdícios. No varejo, eles redefinem preços e estoques conforme a demanda e o comportamento do consumidor. E, no setor financeiro, identifica fraudes e anomalias antes mesmo que o cliente perceba algo errado.

Um exemplo concreto foi o projeto desenvolvido pela Engineering Brasil, em parceria com a Google e a Uisa. O desafio era aprimorar o manejo de pragas na lavoura de Nova Olímpia (MT), que era manual e suscetível a erros. Por meio de visão computacional e agentes de IA, a solução passou a identificar e quantificar automaticamente os insetos capturados nas armadilhas, permitindo decisões ágeis e baseadas em dados.

Esse case mostrou como o uso estratégico da IA vai muito além da automação: trata-se de inteligência aplicada ao negócio, capaz de transformar setores tradicionais e gerar ganhos de produtividade, redução de tempo e possibilidade de expandir o modelo para outros segmentos, como avicultura, suinocultura e pecuária.

A ação humana na era das decisões autônomas

O avanço dos agentes de IA também levanta uma questão essencial: qual é o novo papel do ser humano dentro das organizações inteligentes?

A resposta está na governança e na supervisão estratégica. A IA não elimina o papel do profissional mas, sim, eleva seu nível de atuação. Líderes e equipes deixam de focar em tarefas operacionais e passam a direcionar o propósito e os limites da inteligência autônoma.

Essa transição exige mudança cultural, com confiança nas decisões automatizadas, sem abrir mão da transparência e da responsabilidade. A combinação entre máquinas que aprendem e humanos que interpretam é o que torna o uso da IA realmente transformador.

Ética, controle e confiança

Com grande poder de decisão, surgem também novos dilemas éticos e de segurança. Aqui entra o conceito de IA responsável, que pode ser traduzido num conjunto de práticas que inclui transparência de algoritmos, governança de dados e supervisão contínua das decisões automatizadas.

Empresas digitalmente maduras já estruturam comitês de ética em IA e protocolos de governança, garantindo que a tecnologia apoie, e não substitui, o julgamento humano.

O diferencial competitivo do futuro

Empresas que tratam os agentes de IA apenas como mais uma onda tecnológica correm o risco de ficar presas à automação. Já aquelas que os utilizam como inteligência organizacional aplicada, conectando tecnologia, dados e estratégia, serão as que irão liderar o próximo salto de produtividade e inovação.

Implementar IA com sucesso é mais do que integrar sistemas: é redefinir a forma de pensar, decidir e agir dentro da empresa. O segredo está em começar pequeno, medir resultados, ajustar continuamente e envolver pessoas preparadas para trabalhar lado a lado com a tecnologia.

E o que vem a seguir?

Estamos diante de uma nova fronteira da transformação digital. Nos próximos anos, veremos empresas em que decisões operacionais e estratégicas serão tomadas de forma híbrida entre humanos e máquinas, em tempo real.

Os líderes que souberem equilibrar autonomia e supervisão, inovação e responsabilidade, serão os protagonistas dessa nova era.

A dúvida, portanto, não deve mais ser se os agentes de IA farão parte do seu negócio, mas como utilizá-los para gerar valor real, ético e competitivo.

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*Diretor Comercial da vertical de Indústrias e Serviços da Engineering Brasil; Com mais de 37 anos dedicados à construção de relacionamentos sólidos e evolução tecnológica das empresas brasileiras, atua como Executive Head de Indústria & Serviços da Engineering Brasil. À frente das áreas Comercial e de Delivery, lidera projetos transformadores nos segmentos de Agro, Metal & Mining, Automotivo, Tax e Dados/API. Sua trajetória inclui a condução de iniciativas estratégicas em Dados, Inteligência Artificial, Indústria 4.0, Soluções Digitais e Cloud, impactando setores como Óleo & Gás, Serviços Financeiros, Telecomunicações, Saúde e Seguros. Reconhecido pela capacidade de liderar times e impulsionar inovação, se consolidou como uma das grandes referências em transformação digital e evolução dos negócios no país.

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