Fonte: ICMC/USP
Desenvolvidos durante escola de verão do ICMC, três aplicativos representaram o Brasil na competição Technovation Girls, um deles conquistou o prêmio de melhor aplicativo da América Latina na categoria iniciantes
Três projetos de estudantes brasileiras chegaram até a semifinal da competição internacional Technovation Girls, que reúne aplicativos criados por garotas de todo o mundo. Uma das soluções criadas, o aplicativo Interpret, conquistou o prêmio de melhor da América Latina, e foi o único representante do Brasil na semifinal da categoria iniciantes, voltada a garotas de 8 a 12 anos.
Destinado a aprimorar as habilidades de leitura e interpretação de textos, o Interpret foi desenvolvido por quatro meninas durante a escola de verão Technovation Summer School for Girls (TechSchool): Estela Zanlorenssi Herold, Larissa Prates Zaniboni, Lorena Zini e Mariana Balieiro dos Santos. Com o aplicativo, é possível ler e ouvir histórias, além de responder algumas perguntas que estimulam a compreensão dos textos, formuladas com apoio de ferramentas de inteligência artificial. A ideia é melhorar as habilidades de leitura e interpretação, atuando contra o analfabetismo funcional.
Estela, Larissa, Lorena e Mariana estão entre as 750 garotas de 8 a 18 anos, de todo o Brasil, que já foram impactadas pela escola de verão. Promovida pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, a iniciativa é organizada pelo Grupo de Alunas das Ciências Exatas (GRACE) e já está em sua sétima edição. Com foco no desenvolvimento de um aplicativo, a escola aborda programação, noções de empreendedorismo, gestão e marketing. “Foi muito legal essa experiência que o GRACE proporcionou, muito inesquecível. É um mundo em que eu não fazia ideia que poderia entrar, mas quando entrei, me apaixonei”, conta Mariana.
Além do Interpret na categoria iniciante, outros dois aplicativos desenvolvidos na TechSchool foram semifinalistas da categoria sênior da competição, voltada para quem tem de 16 a 18 anos: Raízes e TinyBites. Raízes ensina a língua Tupi-Guarani, valorizando a diversidade indígena e preservando o patrimônio cultural linguístico brasileiro. Três garotas participaram do desenvolvimento da solução: Alice Maria Françoso, Ana Clara de Oliveira Silva e Nathalia Yumi Mori Meyaguskui. “Ter chegado até uma semifinal internacional foi muito especial, porque além da oportunidade já ter sido incrível, a conquista reforçou ainda mais que todo o esforço valeu a pena. Com certeza, foi uma experiência que vou levar comigo”, revela Nathalia.
Já TinyBites foi desenvolvido para combater a obesidade e a desnutrição infantil, um desafio que ainda afeta muitas famílias brasileiras. O aplicativo é intuitivo e apresenta uma alternativa prática e educativa no preparo de refeições balanceadas, mostrando opções de refeições nutritivas, adaptadas para crianças e pessoas alérgicas, a partir dos ingredientes e do tempo disponível. A solução é resultado do trabalho de Isabelle Milena Pereira Rodrigues, Laís Bembo de Freitas, Lindicy Jheiny Souza Chagas, Luana Assunção Vitorino e Taís Daniely Stefani.
“Essa vivência reforçou meu interesse pela área de tecnologia e inovação, além de me proporcionar crescimento pessoal, técnico e colaborativo. Desde então, me apaixonei pela iniciativa, que vai muito além da tecnologia, promovendo empoderamento e transformação”, conta Isabelle, que também participou da TechSchool em 2024. Ela comenta que, ao ser selecionada para a semifinal, se emocionou ao ver como a dedicação das colegas e dos mentores deu resultado, e percebeu a importância do trabalho em equipe: “Em 2025, a experiência foi ainda mais significativa e, por isso, pretendo continuar participando em 2026, agora na posição de mentora, com o objetivo de ajudar outras meninas a trilharem caminhos semelhantes”.
Como os aplicativos foram criados ― Durante a TechSchool, as garotas começam o trabalho mapeando problemas reais da sociedade a serem solucionados, que são categorizados de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, as ODS, metas de relevância global relacionadas a temas como: sustentabilidade, direitos humanos, diminuição da desigualdade, educação de qualidade, saúde e meio-ambiente. Após a definição das problemáticas a serem enfrentadas, as equipes iniciam a fase de idealização dos aplicativos, com apoio de mentores voluntários, pessoas que atuam profissionalmente em diversas áreas do conhecimento, tanto tecnologia quanto gestão empresarial e de negócios, recursos humanos, marketing, etc.
Ao final da escola de verão, além de apresentar um vídeo (pitch) explicando como funciona o aplicativo, as participantes entregam também o código fonte do produto criado, um vídeo técnico do aplicativo, descrevem sua jornada de aprendizagem e, caso participem de uma categoria sênior, também devem elaborar um plano de negócios. As melhores equipes de cada uma dessas três categorias são premiadas: iniciante, de 8 a 12 anos; júnior, de 13 a 15 anos; e sênior, de 16 a 18 anos.
“Cada participante da equipe focou no que tinha mais afinidade, então, algumas ficaram com a parte de plano de negócios, edição de vídeo e outras com a programação. Eu acho que todas conseguimos aprender mais sobre cada uma dessas áreas e sobre o processo de desenvolvimento de um sistema de uma forma mais prática”, explica Luana, da equipe que criou o TinyBites.
Para além da capacitação técnica que a TechSchool promove, a iniciativa propõe um espaço de colaboração entre estudantes, aprimorando habilidades como trabalho em equipe, comunicação objetiva, gestão de projetos e contato com o mundo da ciência e tecnologia. “Esse ano foi a terceira vez que eu participei da TechSchool e, com certeza, irei participar de novo porque em todas as vezes a equipe sempre estava disposta a ajudar e as aulas são muito boas”, diz Estela, uma das criadoras do Interpret.
Todas as meninas que participam da TechSchool são, ainda, incentivadas a inscrever os projetos criados durante a escola de verão na competição internacional Technovation Girls, que também é dividida em três categorias. No caso da competição, cinco equipes de cada categoria são finalistas das premiações internacionais e regionais, por continente. Este ano, o Brasil não terá nenhuma equipe representando o país na final internacional, que acontece dia 19 de setembro, de forma remota.
Iniciativa nacional – A Technovation Summer School for Girls é uma das ações do GRACE (Grupo de Alunas nas Ciências Exatas) do ICMC, grupo de extensão integrante da Rede de Ensino Brasileira em Engenharias e Ciências Exatas (REBECA), uma iniciativa nacional que busca conectar e impulsionar projetos voltados à promoção da diversidade e da inclusão nas ciências exatas e engenharias. A Rede é resultado do empenho das professoras do ICMC Lina Maria Garcés Rodriguez, atual coordenadora do GRACE evice-diretora do ICMC, que apresentaram a proposta em uma chamada especial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por meio da chamada, a Rede conquistou R$ 1,27 milhão, que estão sendo empregados em bolsas e iniciativas tal como a da escola de verão, espalhadas por todas as regiões do Brasil pelos próximos três anos. Confira os vídeos das apresentações dos aplicativos:
- Interpret, auxiliando na melhoria de habilidades interpretativas: https://www.youtube.com/watch?v=MI5gFBmn92c&t=1s
- Raízes, a tecnologia como uma poderosa aliada na preservação cultural: https://www.youtube.com/watch?v=4LSLd7bWVws
- TinyBites, uma ferramenta para geração de refeições balanceadas, contribuindo para uma alimentação saudável: https://www.youtube.com/watch?v=uDDzJhT6Hiw&t=1