Fonte: ABN – Agenciade Noticias BNDES
- Modelo de cooperação pode ser replicado em outras cidades e outros Estados, diz diretor do BNDES
- Banco avalia criar fundo para data centers e inteligência artificial com aporte de até R$ 1 bilhão
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou nesta terça-feira, 1, um protocolo de intenções com a Prefeitura do Rio de Janeiro com o objetivo de desenvolver o projeto Rio AI City, que visa posicionar a cidade como um hub de data centers na América Latina. O acordo de cooperação – que também envolve o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Eletrobras e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – foi assinado na sede do Banco, durante o evento Governança e Estratégicas Públicas em Inteligência Artificial.
“Tecnologias de informação e processamento de dados são hoje um setor transversal na economia” , afirmou o diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDES, Nelson Barbosa. “Vamos criar um modelo de cooperação para o BNDES que pode ser replicado em outras cidades e outros Estados”.

Nelson Barbosa, diretor do BNDES | Foto: André Telles/BNDES
O diretor também anunciou que o Banco estuda a criação de um fundo voltado para projetos de data centers e inteligência artificial, com potencial de aporte entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. A iniciativa integra a retomada da política de investimentos diretos em empresas, divulgada na semana passada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Segundo Mercadante, serão destinados R$ 10 bilhões para investimentos em ações de empresas no biênio 2025-2026, dos quais R$ 5 bilhões serão feitos via participação direta e outros R$ 5 bilhões por meio de fundos de participação (FIPs).
Barbosa explicou que esse fundo pode chegar a um valor total entre R$ 2,5 bilhões e R$ 5 bilhões, considerando os aportes privados para apoiar o desenvolvimento de empresas de tecnologia da informação. Segundo ele, os recursos serão destinados a todos os elos do setor, com apoio preferencialmente para empresas pequenas e médias. “Precisamos fazer mais aportes em infraestrutura, ampliar a oferta de energia, melhorar a conectividade e investir em capital humano para desenvolver o setor”, defendeu.
O diretor destacou ainda que, desde 2023, o BNDES já apoiou o setor com um total de R$ 1,7 bilhão. O montante inclui a aprovação de R$ 1 bilhão em nove operações de hardware, incluindo data centers e produtos de TI; o aporte em duas empresas, no total de R$ 63 milhões; e R$ 700 milhões em sete fundos de participação. “Esses R$ 700 milhões devem alavancar mais R$ 2,3 bilhões de capital privado, viabilizando o crescimento dessas empresas”, afirmou.

Eduardo Paes, prefeito do Rio | Foto: André Telles/BNDES
Rio AI City – Presente ao evento, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, avaliou que o ambiente regulatório, fiscal e tributário é muito favorável para a implementação do hub de data centers, que ficará localizado na Barra da Tijuca. “Temos o apoio do BNDES, energia limpa, uma infraestrutura robusta de cabos subterrâneos e fibras ópticas e o mais valioso: capital humano”, disse. O objetivo é alcançar uma capacidade de 3 gigawatts até 2032, com custo de implementação de US$ 65 bilhões.
Na mesa de abertura, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a importância do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que prevê investimentos de R$ 23 bilhões até 2028 e já conta com 31% das ações propostas concluídas ou em andamento. Ela também ressaltou o papel do BNDES como indutor do desenvolvimento nessa frente.

Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação | Foto: André Telles/BNDES
“Estamos comprometidos em colocar a inteligência artificial a serviço de um projeto de crescimento com justiça social e equidade”, afirmou. “Dominar a IA é uma questão de soberania nacional crucial diante das mudanças na geopolítica do mundo. Estamos preparados para garantir as agendas de desenvolvimento ecológico, inclusão e fortalecimento do Sul Global”.
Para a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, o avanço digital pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir desigualdades e alavancar o desenvolvimento econômico e social do Brasil. “Essa revolução tecnológica tem um potencial positivo muito grande, mas também pode acentuar as desigualdades já existentes hoje”, disse.
A ministra mencionou ainda o projeto que visa criar um banco de dados único para integrar as informações disponíveis nas diferentes esferas do governo federal. “Temos trabalhado com a lógica de que a inteligência artificial no Brasil seja inclusive, soberana, ética e centradas nas pessoas”, afirmou.

Esther Dweck, ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos | Foto: André Telles/BNDES
Governança – Em painel sobre governança e economia de dados, o titular da Cátedra em Inteligência Artificial no Colégio Brasileiros de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronaldo Mota, avaliou que estamos diante de um cenário em que as máquinas podem lidar com dados de forma ilimitada, exponencial e independente da interferência humana. Por isso, a regulação do setor é fundamental. “Ou somos peças ativas na formulação dessas políticas ou ficaremos submetidos àquilo que é decidido fora do nosso controle”, comentou.
Para Luca Belli, professor da Fundação Getúlio Vargas, é uma falácia acreditar que a regulação impede inovações. “Quando bem-feita, a regulação direciona a inovação, mas é importante lembrar que a publicação das regras é só o início da jornada regulatória. É necessário acompanhar a implementação de perto”, defendeu.
João Vasconcellos, especialista sênior em governança do Banco Mundial, apontou que um dos desafios é a integração das agendas de IA e de sustentabilidade. “São duas grandes transições que os governos estão tentando abraçar, mas é preciso que essas agendas estejam entrecruzadas”.
O evento – Aberto nesta terça, a uma semana da reunião de cúpula dos Brics, o evento Governança e Estratégicas Públicas em Inteligência Artificial prossegue nesta quarta-feira, 2. A programação inclui painéis sobre IA e políticas públicas e infraestrutura sustentável para data centers.

Foto: André Telles/BNDES