Por Clara Savelli*
A preocupação com os assuntos relacionados a ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sustentabilidade e governança) não é de hoje, mas alguns anos (ou décadas) atrás, a situação não era iminente como hoje. O amanhã finalmente chegou requerendo prestação de contas, o que fez a humanidade perceber que estávamos muito em dívida e que é mais do que tempo de colocar na prática as iniciativas de ESG que sempre prometemos que algum dia iríamos tirar do papel.
Neste cenário, as empresas também começaram a se preocupar com o assunto. As Iniciativas de ESG têm se mostrado fundamentais não apenas para o bem-estar do planeta, mas também para a reputação das empresas. Os consumidores estão cada vez mais conscientes desta necessidade e cobrando das empresas das quais consomem, inclusive se mostrando dispostos a pagar mais por marcas que são ambientalmente responsáveis. Como uma associação de classe, a ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software) entende que adotar estas iniciativas é ainda mais importante, tendo em vista a influência e o impacto significativo que a indústria de tecnologia exerce sobre a sociedade e o meio ambiente e a responsabilidade que a associação tem com as empresas com ela conectadas, servindo como possível modelo de boas práticas e como fomentador de iniciativas que podem ser também usufruídas pelos associados.
O aspecto “E” (Ambiental) das Iniciativas de ESG envolve ações voltadas para a redução do impacto ambiental. As empresas de software, muitas vezes, têm uma pegada ambiental menos evidente em comparação com indústrias mais tradicionais, como a têxtil ou petroquímica. No entanto, a energia consumida por centros de dados, a gestão de resíduos eletrônicos que rapidamente se tornam antiquados para suas finalidades e o uso de materiais em hardware ainda são preocupações relevantes. Para mitigar essas situações, as empresas de software podem promover práticas de economia de energia, uso sustentável de recursos e a adoção de tecnologias verdes. Ao fazer isso, não apenas contribuem para a redução do impacto ambiental da indústria, mas também demonstram seu compromisso em ser parte da solução para desafios globais como as mudanças climáticas. Como exemplo desta preocupação, pontua-se que a ABES já mitiga a emissão de carbono em seus eventos anuais e que trabalha com a Mobilização para Redução da Desigualdade, que propõe a reciclagem de aparelhos eletrônicos obsoletos, reinvestindo o valor adquirido em organizações que promovem a capacitação digital. A Mobilização, inclusive, é aberta para adesão de todos os associados e de qualquer empresa no mercado, já tendo sido responsável pela coleta de mais de 90 toneladas de produtos obsoletos que passaram pelo processo de reciclagem e recondicionamento.
O aspecto “S” (Social) refere-se ao compromisso das empresas com práticas socialmente responsáveis. No contexto das empresas de software, isso pode abranger desde a promoção de diversidade e inclusão na indústria até a contribuição para a educação tecnológica e o desenvolvimento de comunidades locais. Como forma de melhorar estes possíveis impactos, as empresas podem buscar criar ou apoiar programas de capacitação e mentorias ou fazer parcerias que visem diminuir as disparidades de gênero, raça, orientação sexual ou qualquer outro recorte minoritário na área de tecnologia. Além disso, podem colaborar com iniciativas sociais que utilizam a tecnologia para enfrentar desafios sociais, como acesso à educação, saúde e serviços básicos. Neste recorte, a ABES criou o RH Tech, que busca mitigar a falta de mão de obra capacitada no mercado de tecnologia, se conectando a parceiros que oferecem cursos de capacitação digital e oferecendo um portal de vagas para pessoas formadas por estes parceiros. Além disso, a ABES também se preocupa em promover debates internos e envolvendo seus associados sobre boas práticas e políticas de anti-assédio e discriminação como parte de seu programa de integridade e de compliance.
O aspecto “G” (Governança) trata da transparência, ética e integridade na governança corporativa. Como uma associação de empresas de software comprometida com a boa governança, a ABES busca influenciar seus membros a adotarem políticas claras, evitar práticas anticompetitivas e manter altos padrões éticos. Isso não apenas fortalece a confiança entre as empresas e os stakeholders, mas também pode ajudar a prevenir escândalos que possam prejudicar a reputação da indústria como um todo. Toda esta preocupação também está correlacionada com os pilares da ABES, que busca atuar a fim de assegurar um ambiente de negócios que seja propício a inovação, ético, dinâmico, sustentável e competitivo globalmente. Pensando nisso, a ABES possui um programa chamado Uma Empresa Ética, que busca fortalecer os três pilares da legislação vigente de ética e conformidade entre seus associados, sendo eles: treinamento e capacitação; uso de um portal de denúncias e implementação de um código de conduta coerente. Associados que conseguirem comprovar que tem estes três pilares solidificados em suas empresas são certificados como “empresas éticas” pela associação. Ademais, outro produto oferecido pela associação é seu Guia de Fomento, aberto para o público geral, onde todos podem fazer buscas de linhas de financiamento que sejam específicas para aquilo que estejam procurando, a fim de incentivar a inovação.
Em resumo, as iniciativas de ESG desempenham um papel crucial nas empresas de software, não apenas por sua capacidade de melhorar a imagem e a credibilidade das empresas, mas também por sua contribuição para a criação de um setor mais sustentável, inclusivo e ético, o que é bastante alinhado aos objetivos supramencionados da ABES. Ao adotar medidas ambientais, sociais e de governança responsáveis, o objetivo da associação é desempenhar um papel de liderança na construção de um futuro mais positivo, tanto para a indústria de software quanto para a sociedade em geral. Afinal, a ABES não quer que seu slogan seja um discurso vazio e prova, dia após dia, que está totalmente comprometida com o objetivo de ajudar a construir um Brasil mais digital e menos desigual.
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*Escritora, mestre em ética e filosofia política, advogada e analista internacional. Colabora com a ABES desde 2020, onde é responsável pelas iniciativas de ESG e pela adesão da ABES ao Pacto Global da ONU.